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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A magnífica Emily Bronte - By Sahge


Tenho escrito alguns poemas que não me parecem estar ficando bons. Receio que eu tenha me tornado excessivamente aut-crítico em relação ao que escrevo, mas tenho sentido falta de postar poesias, por isso hoje eu gostaria de compartilhar estas de Emily Bronte. A obra dela é o que há de mais profundo em se trantando de poesias. Uma vez uma pessoa definiu a poesia de Emily como "gótica". Haja visto a profundidade da cultura gótica, considero isso um grande elogio, mas não sei se eu colocaria a força poética de Emily Bronte dentro do arcabouço de qualquer coisa que lhe dê uma forma. Prefiro pensar que o conteúdo dela é mais poderoso e é um ninho onde pode a alma repousar as cansadas asas.


ONDE, POIS ESTAVAS TU/ EIS QUE ESTAS DE VOLTA


Ah!Eis que estas de volta
Esta noite,
Para despertar ainda
O que eu julgava morto nos abismos do ser.
A luz aumenta;
De súbito, o coração ardente espalha
Sua luz vermelha.

Agora que vejo a palidez das tuas faces,
As grandes planícies dos teus olhos,
E que uma palavra mal se desprende dos teus lábios,
Adivinhei o curso estranho do teu sonho,
E poderia jurar que este vento triunfante
Dispersou para bem longe
As imagens do mundo,
E afastou do teu coração a imagem inoportuna,
Semelhante às flores de espuma que recolhe a onda.

E agora é um sopro do espírito
E tua presença e um dilúvio penetrante,
O raio que brame no meio das tormentas
E o suspiro
Final da tempestade que morre.

És o vasto encanto em que se embala
O universo, somente tu escapas
A sua fascinação.

A vida rebenta sem descanso de tua fonte poderosa
E sobre ti a morte já não tem nenhum poder.

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Onde, pois estavas tu?Em vão te procurei.
Um olhar brilhou, acreditei reconhecê-lo,
Mas em torno dessa fronte brincavam cachos negros;
O olhar cintilava como se fosse estranho astro
À minha alma extasiada.

E eu sentia meu coração, angustia de meus olhos,
Abandonar-se de repente à doçura de um sonho.
Tremia à idéia de saber seu nome,
E, no entanto eu me inclinava e esperava
Sua voz,
Esta voz que eu jamais tinha ouvido,
Que me falava docemente dos antigos anos,
E parecia despertar uma imagem longínqua.
Lagrimas subiam, e queimavam meus olhos.


Permaneci no limiar, imóvel, um instante.
Olhei a amplidão;
E vi o céu, e o circulo negro das
Montanhas.
A lua em meio a sua viagem em um claro navio
Vogando de alto bordo no oceano do espaço.
O vento passava como um murmúrio,
Estranhamente povoado de ecos e fantasmas.
E foi então que franqueei os muros
Da sombria prisão que me serve de lar,
E que eleva seu mistério sobre a planície vazia.


Oh!Vem, segue-me, dizia a canção de passagem;
A lua esplende bela nos outonos do céu
É tempo de vir.
Há muito esgotados por um trabalho inglório,
Os olhos e a cabeça pedem repouso.

Vem!

AGORA ESTA ACABADO

Ó, deus do céu, esta acabado agora!
Acabado o sonho horrível, o sonho de terror,
O coração partido, as áridas tristezas,
Os fantasmas da noite, a aurora plena,
E os dilaceramentos desse mal estranho.
A queimadura sem fim das lagrimas teimosas,
A queixa que suspira e lamenta cada lagrima,
E desborda e se arranca à sombria mansão.
A vida parecia fugir através dessas portas abertas,
Mas renascia sempre do mesmo desespero.
A noite branca e a garganta cerrada de angustia,
O ranger dos dentes e os olhos do medo,
E a eterna agonia dessa longa espera,
Quando, no escuro céu dos destinos
Implacáveis,
Não se via brilhar mais nenhuma chama de esperança.

As impacientes cóleras, os inúteis esforços para dissipar
Os sonhos que nunca deviam ter nascido!
E a alma esmagada pelos pensamentos, tonta, quase
A desmaiar sob a tortura,
Ate o dia em que o corpo se recusou a sofrer mais.
Agora esta acabado,
Sou livre.

O alto vento do mar me enobrece e me acaricia,
O vento, grande vagabundo das planícies ondulantes,
Que eu julgava perdido e sem esperança de volta.

Eu te bendigo, ó mar faiscante,
E tu esplendor arqueado,
E tu, universo, tu em que repousa minha alma!
Sede benditos... E minha voz desfalece.
Não é mais a tristeza que me cinge a garganta,
Mas sob a palidez das faces sinto uma fria magoa
Escorrer
Como a chuva que desce ao longo da planície.

Durante muito tempo este liquido molhou a minha
Prisão,
Gota a gota escorreu sobre a pedra úmida
E cinza.

As lagrimas me perseguiam ate em sonhos,
A noite, como o dia, me enchia de pavor.

E eu chorava também,
Quando a neve de inverno, através das grades
Rodava na tempestade.

Mas então, minha alegria se tornava mais serena,
Pois tinha medo de tudo nesta morte das coisas

O tempo mais amargo, o mais terrível,
Era quando o verão brilhava no seu esplendor,
E lançava nas paredes um clarão esverdeado
Que falava de planícies e ridentes bosques.

Muitas vezes sentei-me ate mesmo no chão gelado,
Contemplando no céu um efêmero
Clarão.
E minha alma sem ver as trevas reinantes,
Lentamente partia para as terras serenas.

Para a abóboda divina onde o céu triunfava,
Para o azul puro com o ouro das nuvens,
Para o teto paternal da minha antiga mansão,
Igual,
E, no entanto, tão velha aos olhos da memória.

Oh!Ainda agora
Eu as vejo voltar com enorme terror,
Estas paixões cuja onda subia com o mar,
Quando, cabeça baixa, sobre os joelhos,
Asperamente lutava para domar meus soluços.

Precipitava-me no chão com raiva,
E gritava, arrancando meus cabelos emaranhados;
Quando a rajada tinha levado sua asa para mais longe,
Eu permanecia no chão, muda e sem esperança.


Às vezes uma oração ou às vezes uma blasfêmia,
Sacudia num estremecimento
O deserto da minha língua.
Mas a palavra expirava sem despertar eco,
E morria no seio que vira seu nascimento.

Já então o dia agonizava nas alturas,
E a noite estancava os seus últimos clarões.
Minha desgraça emprestava a febre adormecida
A estranha forma e o espectro de um sonho,
E terríveis visões me forçaram a conhecer
Os imensos desertos da dor humana.

Mas agora está bem acabado;
Para que voltar a mesma vereda,
Meditar e chorar sobre sentimentos mortos?
Liberta-te dos ferros e repudia as correntes,
E preciso viver amar e sorrir de novo!

Os anos devastados, a mocidade perdida,
Sepultados para sempre no escuro do cárcere,
A dor que rói, as lagrimas sem esperança,
Deixa-as para sempre no abismo do esquecimento.

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