De tudo que já me esqueci,
Aprendi a ser muita coisa por amor.
Eu conheço a agonia de ser o ninho que o pássaro abandona
E a alegria de ser o céu em que ele voa ao deixar o ninho.
Sofrer pela sua liberdade que me priva do seu calor,
E extasiar-mede alegria sentindo o teu vôo nos meus ares...
Acariciar tuas asas com meu vento,
Secar nos teus olhos as mesmas lágrimas de desespero no adeus que me queimam a face...
E regozijar-me até a loucura quando distingo a tua forma voltando.
Nunca compreendi o que agora se me revela
Que não importa o quanto e o quão longe voe
Continuas voando em mim...
E eu pergunto;
Para onde eu poderia ir que não te levasse em minhas veias
Minha febre tão amada?
Jamais abandone a minha cabeceira,
Resista a todas as poções alquímicas ou do bom senso,
E deixe-me arder gloriosamente por este breve instante
Em que te apraz repousar em mim suas asas fartas de vôo.
Vem, deixa-me abrigar-te da chuva e da noite escura,
E não temas perder-te,
Porque todos os ventos soprar-te-ão a mim
E vire curvas, desças e suba sobre vales...
Todos os teus caminhos trar-te-ão a minha porta.
Para onde eu poderia partir desse limiar,
Se tornei-me o próprio lugar onde permaneço?
Sou o porto açoitado pelo vento e pelas marés
E nesse oceano que finda no infinito,
Cujas ondas são também a minha carne e fibras
Desliza o barco que abandona o porto que sou eu.
Ficar nunca foi escolha minha, partir nunca foi escolha tua
É o meu destino, passarinho encantado de plumas ao vento
Permanecer ao largo do mundo e te apontar as distâncias que te chamam.
“Ela há de voltar”, sussurra o vento
“Ela tem de voltar!”, grita minha alma.
E vigilante investigo no ocaso das horas o céu e as ondas.
É o ritual durante o qual indago se minha razão abandou-me
Como o pássaro abandona o ninho.
Se meu destino é a um só tempo ser pouso e céu de adejo
O teu meu passarinho tão amado, é ser livre para voar em mim...
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