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quarta-feira, 27 de julho de 2016

Um Não-poema

Ainda não sei rimar, então desenho formulas matemáticas durante um tempo considerável, até perceber perplexo que tampouco sei resolve-las e isso se soma aos demais enigmas em minha cabeça e me sinto pequeno. Gavetas de meias a arrumar, reparos miúdos em uma casa miúda, contas mensais e os grandes enigmas da existência se revesam em noites mal dormidas na função de me deixar por horas a fio a olhar para a escuridão pensando em que devo fazer.

Minha poesia me abandonou ou então fui eu quem deixei de lado o propósito firme de viver e morrer por grandes coisas, naquele período em que me perco entre bater o ponto pela manhã e devanear a caminho de casa no fim da tarde.

Ha ideais em abundância atualmente e eu até lutaria por um deles se não estivesse tão na moda ter ideais e se eu não achasse tão repugnante seguir modas e se eu considerasse sensato falar por qualquer um que não fosse eu mesmo.

Tenho experimentado grandes ausências de mim , hiatos de tempo em que passo os dias a deixar passar os dias, intuindo por entre esse vazio se não me perdi em uma grande fenda qualquer que me deixou nesse limbo de onde escrevo a você mais uma vez o meu desamparo.

Dia desses observei uma mulher grávida a alisar o ventre inchado sonhando um grande futuro para o filho e a invejei e também me apiedei dela.  Não tenho certeza se parir uma ideia ou um ideal é menos ou mais doloroso do que ter um filho e eu já sinto as contrações da minhas ideias ha décadas, mas não as dores do parto. No fim, tanto um filho quanto uma ideia podem dar em nada.

Ainda espero aqui o soar de alguma trombeta que me desperte desse grande sonho modorrento que é a vida, um messias qualquer a apontar um caminho ou uma razão melhor pra levantar pela manhã que não seja o horário dos ônibus ou a bexiga cheia demais aos domingos.

Espero, ardentemente,que por entre esse desfile de espectros fingindo ser gente, você ainda exista
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