Por semanas a fio tenho raspado o fundo do caldeirão de idéias a cata de algo que valha a pena compartilhar com o mundo.
Como se o "mundo" me lesse...(Oh vaidade! Dona Modéstia mandou lembranças!)
Por "mundo", leia-se um pequeno grupo de pessoas que me honra com alguns minutos de seu tempo e que gastam outro par destes minutos torcendo os neurônios enquanto os olhos escorregam pela confusão minha de cada dia.
Pra falar a verdade, eu me daria por bastante satisfeito se ao menos uma pessoa me lesse, mas que me lesse com a sensação de familiaridade com que leio algumas pessoas...
Só uma andorinha e eu teria o verão e outono e primavera e todos os invernos do céu.
Me ocorreu (eu ia escrever "ocorreu-me", mas já me disseram que tenho de vencer minha tendência à proclisação - e ao neologismo também, pelo jeito - ) postar umas poesias que forjei em tempos róseos, em momento de febre uns anos atrás e que postei num blog perdido na memória.
Tenho numa gaveta um montante razoável de versos atordoados...
O problema foi o calor que me subiu ao rosto ao lê-las e me lembrar dos sentimentos que mas motivaram o parto e dos quais eu sinto certo constrangimento ao lembrar...
Olha a minha infância de sentimentos me acenando ali da esquina!
É um saco ser a síntese de um menino medroso e um velho preocupado, quando o assunto são as coisas do coração.
Vou deixar essas "poesias" marinar um pouco mais numa gaveta antes de me atrever a olhar de novo o meu ridículo.
Até por que, cartas de amor não seriam ridículas se não fossem cartas de amor...
Ou o inverso disso, não sei dizer no que pensava o poeta...
Preciso envelhecer.
E preciso envelhecer logo!
Então, meus caros leitores incautos e amigos invisíveis, como não tenho o que partilhar hoje, além da minha perplexidade, me permitam partilhar o sentimento de estar perplexo por ainda ter a capacidade de estar perplexo.
São 16:49 agora
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quarta-feira, 11 de março de 2015
domingo, 1 de março de 2015
Da minha preguiça de escrever e do que a motiva....
Peguei a caneta e uns papeis amassados e amarelecidos. O
amarelo do papel mais o fato de a caneta ser uma bico de pena me deram a falsa
impressão de que eu, tal qual os grandes literários a quem admiro, seria
possuído por sei lá qual das musas caprichosas e engendraria algo fabuloso e
digno de ser lido e de que me orgulharia...
É mais ou menos assim; você passa um período qualquer
numa letargia literária e se vê na obrigação de fazer algo relevante,
reinventar a roda e re-re-redescobrir uma América de significados.
Fiquei com preguiça de escrever e essa foi a desculpa que
dei a mim mesmo para fingir que eu não estava com vergonha do conhecimento de
que eu escrevo para ser reconhecido por alguém que como eu seja “da Tribo”.
Lastimo não ter de, tal qual um Odisseu moderno, passado
uma vida sem encontrar e a procura destes que como eu estão conectados a essa
coisa sem nome, esse sentimento de EU e de existência.
O anseio por qualquer coisa é um mau juízo de toda forma
e não é incomum no afã do maravilhar-se com alguém, se agigantar anões e ver
montanhas onde só há colinas.
Pior ainda é ver tigres ronronando como a gatos e leões
se autocastrarem para serem adulados como poodles...
Há o mundo que-se-reconhece-como-O-real e nele nós não
temos lugar, a não ser o lugar ermo dos mau-ditos (ou mal ditos ou malditos mesmo) e das incompreensões. Mas a
Tribo, ainda que não se reúna como tal e nem crie nenhum estatuto, estabelece
por instinto os meios de como se imiscuir num mundo que não a quer; e o meio é
não querer ser o que se é.
Talvez você conheça o tipo de pessoa que nega o que é e
foge do que é, como o diabo foge do
diabo caso se veja ao espelho. É mais ou
menos como aquele homossexual não assumido que se por acaso encontra em ocasião
social um que é assumido, evita-lhe ou mesmo o hostiliza por receio de que este
olhando-o nos olhos o reconheça como um igual e reconhecendo o denuncie de alguma
forma e de alguma forma ele perca o “greencard” para o mundo dos “normais”.
Em certos países, o recurso do greencard pode ser obtido,
caso se case com um nativo ou de outra forma, abjure da sua cidadania e cultura
anteriores. Você seria, pois, aceito, assimilado.
Você não casa na tribo. Você não comercia, você não
frequenta e nem é frequentado pela tribo e caso alguém se assuma como
Anacrônico, há sempre o recurso de evitar-lhe amavelmente e amavelmente evitar
o que poderiam ser em associação um com o outro.
Melhor casar, comerciar e viver com um a quem
subreptilicamente se considera como um “normal” (seja lá que diabos isso
signifique) e tentar, através desse vínculo fingir mais um pouco que não se
está fingindo e fugindo de quem é você.
Tire a vírgula da frase anterior e você lerá não um aviso, mas uma verdade amarga...
A Tribo está em extinção porque merece ser extinta,
porque um povo, um ser que não acredita no próprio direito de ser o que se é e
de existir e que procura pelos meios de se autoanular em troca das migalhas da
aceitação alheia cheia de condicionantes, não merece mesmo existir.
É um pensamento vaidoso, mas a vaidade é um recurso legitimo
para se manter a autoestima e os motivos afiados, em tempos de vazio e banalidades em que tudo o mais parece
fraquejar e sumir a sua volta.
Ainda não tenho respostas, mas tampouco me cansei de
fazer as perguntas...
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