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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

São Tempos Difíceis...




"Já tive sonhos que nunca mais me abandonaram
e que me mudaram as idéias; espalharam-se dentro de mim, como
o vinho se espalha na água, e alteraram a cor dos meus
pensamentos."


Li isso há tanto tempo em “O Morro dos ventos Uivantes” e fiquei tanto tempo sob o impacto dessas palavras, que sim, elas também se espalharam dentro de mim e alteraram a cor dos meus pensamentos. Ou os meus pensamentos se tornaram tão densos que por causa deles eu tenho lá aqueles sonhos estranhos (mesmo acordado) e eu também acabo acordando sempre com aquela sensação de que “duendes me usam como saco de pancadas durante a noite”.

Chega-se a um ponto que o que é pensamento e o que é sonho fica indistinto e ou os pensamentos são os  sonhos disfarçados de razão ou os sonhos são uma forma mais subjetiva e mais elevada de pensamento.

Não sei...

Só sei que tenho pensado que embora eu lamente, (num luto que cada vez mais me parece impossível de elaborar), que certas pessoas morram (quando a coisa mais importante do mundo é que estivessem vivas), lamento em maior medida, embora não tão dolorosamente, que a maioria das pessoas que me cercam, embora respirem, não estão de fato vivas.

E que quando se perde a referência o que fica tem mesmo de valer o esforço da existência...

São mesmo tempos difíceis para os sonhadores...

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Reencontre-se




Recupere a sua compreensão e conexão com o absurdo. Que há com você? Se ignorar  o vazio voraz que te devora, que te consome pouco a pouco, disfarçando a sua indiferença com ideologias que te abandonam como uma amante infiel, que vai colocar em seu lugar? O que vai usar para tapar o abismo, que não seja uma panela de retórica positivista, frívola e irreal? Por acaso a irrealidade não é uma versão enganadora do nada? Uma camada de gelo fino disfarçada de chão a sustentar os pés alegres de homens inconscientes a dançar? (lembre-se da lição de Atreyu: O nada não pode ser destruído. Deve ser preenchido). Preencha o nada com o seu Eu. Deixe-se ser um indivíduo íntegro, não no sentido da moralidade, mas da inteireza, da coesão.  O Nada não é o inimigo. O seu medo dele é que é. Derrote o medo, abrace o nada. Nele, há muito mais espaço para ser Você. O nada é real. As verdades são pura abstração.

Então Carl Gustav Jung estava certo nisso: “Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta”. (até porque, é quase impossível alguém estar errado em tudo, e eu implico com Jung por causa da minha lealdade canina ao velho Sig e da minha alergia ao misticismo, que Jung abraçou)
Eh, Bien, sou eu novamente.
Lembrei-me de uma cena de um dos melhores filmes a que assisti no ano passado; Cisne Negro. Quase no finzinho do filme, Natalie Portman tem o corpo coberto de penas negras (é o tal cisne negro dando as caras) e sorriu de satisfação. Curiosamente, salvo engano, é a única cena do filme em que ela sorri, o que me faz pensar se a miséria da vida dela não era o seu Cisne Branco. Voltar para dentro de mim mesmo, a sensação foi parecida. Com a diferença que eu sempre tive “plumas negras” e meus problemas começam quando cismo, sei lá por que, que tenho de ser colorido como uma droga de Arara.

Todo mundo precisa ficar um pouco só, para reaprender a respirar com seus próprios pulmões (é a primeira coisa que a gente aprende na vida, mas a própria vida comunal acaba por nos fazer esquecer, daí sufocamos na multidão). Apenas um pouco de solitude, coisa que as circunstâncias ( e em certa medida, nossa  própria covardia) não nos têm permitido é necessário para lembrarmos. (Um pouquinho de tempo e  duas ou três musicas de Himogen Heap pode surtir um efeito similar ao que uma bolsa de sangue teria para um hemorrágico).

Estar dentro da própria pele  é bastante atormentador, mas é um tormento confortável e familiar, porque é o Seu  tormento, e não as agruras alheias que as pessoas teimam em colocar sobre ombros outrem.
Preciso sempre me lembrar de que se existe ressaca moral, também existe embriagues moral, e esse é o tipo de porre de que qualquer um deve se envergonhar. Ficar embriagado de ideologias ou da inconsciência de si é o pior tipo de carraspana que alguém pode tomar.

Sem direito a um antiácido psicológico.

O Abismo de Mim



Uma pedra  lançou-me no abismo.
Atentou para ouvir
O eco do meu corpo, quando eu batesse no fundo
Quando meu grito ressoasse no nada.
“O abismo a que me empurras – disse a Esfinge – Não é maior
Do que aquele que existe em tua alma”

Não houve som e nem dor,
Quando me choquei contras as rochas .
Apenas uma nuvem de dentes de leão flutuando no ar
E o som do farfalhar de folhas secas
Levadas pelo vento.

Bobagem.
Não há vento no abismo profundo,
Como não há alegria nas horas escuras
Quando seu mundo parece retrair e morrer.
Deve deixar que as sombras dancem com as sombras
E as luzes de tua alma,
Que dancem com as luzes que emanam das almas felizes.
Como morrem os anjos?
Como abraçam o vazio os homens alados, cujos sonhos voam?

Morrem como morrem todos os homens,
Sozinhos e com medo, antes que a cortina caia.
Lançando no eterno a esperança de alcançar o mar infinito
O verde e o campo onde caminhariam para sempre.

Uma pedra lançou-me ao abismo.
Está claro que não morri.
E o que não me mata, torna mais louco.
Fiquei carregado da  sabedoria de nada saber,.

Há conforto na sabedoria.
Há abrigo na ignorância.

Mas a loucura....
Abraça-me os ombros como uma consorte.
E me seduz com beijos doces, alucinógenos...
Dota-me de asas imaginarias
E enche a minha cabeça de um céu ilusório:

Mas no vazio, a queda para baixo ou para cima
Não faz diferença alguma.
A pilhéria da vida é a mesma.
Se a ouvir de cabeça pra baixo
Terá a mesma graça
Nenhuma corrente te prende à sombra do mundo,
Exceto as que tu mesmo forjas com lágrimas
Exceto a paixão à própria prisão.

 Uma pedra atirou-me no lago
Atentou  para contar as ondas que se formaram
Quando eu  afundei...
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