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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Da musica de Gonzaguinha e do que me falta





Na manhã do dia 19 de dezembro de 1973, Saturno devia estar dando um “rolê” ali pela  casa de Plutão e Sagitário estava alinhado com a constelação de peixes....

E eu estou fingindo pessimamente que sei qualquer coisa de zodíaco para explicar coisas para as quais não encontro explicação.

Por exemplo, o fato de que, sendo um modelo da safra de 73, vim com itens de série, mas diferente dos demais que saíram daquela fornada, aparentemente me fabricaram desprovido do dispositivo singular chamado coloquialmente de “botão-do-foda-se”.

E olha que já revirei cada canto metafísico meu a cata do dito cujo, porque quantas e tantas vezes me exortaram a ligar o danado, perdi a conta. Ou então eu estou procurando no lugar errado, e esse item esteja escondido somaticamente, por detrás do baço ou por dentro do pâncreas ou em qualquer outro lugar inacessível a minha percepção ou toque e, portanto, inviabilizado de ser acionado.

Talvez seja o caso de fazer um recall, mas meus pais, em tese, tinham justamente função de me fazer negar a existência do meu inexistente “botão-do-foda-se” e ser miseravelmente responsável. Então como vou lá eu aos enta anos pedir que me equipem com algo que deveriam - em tese(2) - prover-me na concepção?

Talvez devesse pedir pra Deus então, mas ainda que eu soubesse a qual dessa miríade de seres superiores que existem - em tese(3) -acima do céu monoteísta – em tese(4) –  pedir, até o momento, ele(a) tem solenemente ignorado todas as orações sem fé que tenho deixado em secretária eletrônica.

Até onde posso ver, sou despossuido desse dispositivo.

Isso talvez explique o porquê de eu nem mesmo conseguir ouvir uma musica sem pensá-la.
Diabos, deve ser bom demais estar dentro da própria pele sem senti-la como a um casaco velho grande ou pequeno demais que lhe deram!

Tem dias em que o desassossego metafísico é uma goteira na cabeceira em noite chuvosa.


“Cantar a beleza de ser um eterno aprendiz...”.

Saudoso Gonzaguinha...
Que há de belo em ser um sempre e sempre a-luno (sem luz) é coisa que me escapa, justamente porque talvez eu não tenha aprendido a aprender e a fruir prazer do aprendizado.
Ou da ignorância.

Acho que estava ocupado demais medindo e remoendo as dimensões da minha angustia por ser tão ignorante.

E no processo acabei, contrário ao que diz a sua bela canção, desenvolvendo uma sutil vergonha de ser tão infeliz ou (in)feliz, até que compreendi que essa é, essencialmente, a minha natureza. E só às vezes ouso pensar que essa é a condição de qualquer ser humano, o que nos move como criaturas desejantes e insatisfeitas, mas ao que parece, também me falta, além do tal “botão-do-foda-se” (e talvez justamente por isso), a capacidade de fingir para mim mesmo que não ligo para isso.

Melhor que o corvo ame o negrume de suas penas, ou vai passar uma vida miserável tentando piar como a um canário.

Não aprendi e não sei o que é aprender.
Talvez também nem mesmo saiba o que é belo. 
Eu sei o que me atrai e com alguma certeza, posso dizer que nem sempre é o que se chamaria de “bonito”.

Minhas respostas nunca foram puras, mesmo quando eu era - em tese(5) - criança.

Acho que sequer tive respostas a dar, só (até o momento) irrespondíveis perguntas puras.

Mas, é claro, isso também não impede que eu repita:

É a vida, é a vida e é a vida!



segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Dividindo o que me ocorre (pura e simplesmente)

...E estou quase me alforriando de uma labuta de cinco anos.
E se tempo é dinheiro, reitero que ando sem sequer um minuto nos bolsos.
Não dá pra escrever nada que seja minimamente decente...

Mas me ocorreu algo e senti impulsos de dividir.

Daí me irritei e pensei; "Cara, isso daí é 'felizinho' e senso-comum demais para merecer consideração". Mas como ando desconfiado até das minhas implicâncias e o que me ocorreu é importante, eis:

   Um luto devidamente elaborado é quando você pára de lamentar o fato de alguém ter morrido, (embora fique surpreso com o fato de o mundo ainda não ter caído no sol por esta pessoa ter morrido) e quando começa finalmente a celebrar o fato maravilhoso de que essa pessoa viveu.

Porque de alguma forma muito subjetiva, seria inadmissível passar a vida sem a consciência de ela ter vivido...



quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Raciologicando (por não ter nada melhor a fazer)

...E eu ainda não vi uma só vidraça que não fizesse, indecentemente, um convite a todas as pedradas do mundo.
E realmente gostaria que meus ossos fossem tão resistentes quanto a obstinação do meu orgulho.

Daí eu seria imortal e talvez estivesse ainda por aqui quando todas as vidraças, pedradas e orgulhos já estivessem extintos por sob a poeira da história..

Por outro lado, é uma manhã tépida de uma quinta-feira tépida num mundo tépido.

E essa vai ser toda a angustia a que me vou permitir por hoje...

...................................................

Um adendo tardio: Seria bom ou não tão mau, que as pessoas à minha volta, só às vezes, se lembrassem de que eu sou um Psicólogo....

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Você não sabe de nada, Luiz!



Acabo de devorar as 811 páginas de “Dança dos Dragões”, de George R.R. Martin. 
Já aviso que não vem spoiler neste post, embora eu goste de ler spoilers e fico sempre pensando na logica de comprar um livro ou assistir a um filme sem saber antecipadamente  do enredo (as chances de levar lebre por gato é sempre uma constante), mas serei cioso de quem tem fobia de spoiler ou prefere ser surpreendido pelos acontecimentos em vez de degustar com vagar as  minucias literárias ou performáticas de atores.

Também não vou falar do meu entusiasmo por George R. R. Martin (e do meu pavor que o velhinho  caprichoso morra antes de concluir sua saga ou de que ele resolva que  mais algum personagem maravilhoso morra). Além do mais, estou meio apaixonado pela saga de R. Martin e eu penso em meu torto pensar que nós sempre ficamos um tanto bobos quando estamos apaixonados. Eu sou um entusiasta muito patético e a consciência disso dói e eu estou em dúvidas se existe algo que doa mais do que consciência. 
Tem sensações que eu prefiro, quando possível, evitar.

Então, permitam-me dividir o meu estranho reconhecimento por uma frase que surgiu por varias vezes ao longo do texto:
Você não sabe nada, Jon Snow.

O porquê de destacar essa frase de todo o enredo maravilhoso de “Dança dos Dragões” eu explico após uma breve e tediosa história:

No comecinho da década de 90 um grupo de garotos se reunia na Praça da Savassi umas duas vezes por mês para jogar RPG. Até então as cartas e os dados eram difíceis de conseguir, sendo a maioria importada e em inglês ou em japonês. O detalhe é que nenhum dos garotos sabia falar essas línguas, o que tornava o jogo ainda mais desafiador. Um desses meninos era uma esquálida criatura de hábitos. Deu-se razoavelmente bem jogando e ganhando algumas rodadas usando um personagem Wizard ou Sage ( como vinham nas cartas), resultado que não conseguiu repetir usando outras categorias de avatar. Essa persistência em utilizar esse tipo de personagem (mais a mania de falar demais e de estar, irritantemente, sempre certo) valeu-lhe a infeliz alcunha de Sage, apelido que lhe acompanhou até a vida adulta e que, para mal de seus pecados, manteve, quando começou a se aventurar pela internet e precisou de um nickname.

É realmente uma lástima ter muita consciência, mas pouca imaginação.

Esse garoto, agora perdido por entre o labirinto de Eus dentro deste adulto que vos digita, nunca foi e nunca se viu como alguém sábio, e na verdade, ainda o sinto em alguma dobra perdida das minhas contradições, a revoltar-se contra a ideia de ser sábio. Ele se inquieta em algum lugar ermo de mim e me causa náuseas morais  cada vez que alguém me diz que sou inteligente. A isto respondo como num vômito raivoso e cansarregado de ironias:

Mesmo? Pois eu preferia ser bonito ou então ter sorte!

 Jesus e todos os deuses sabem que eu trocaria de bom grado vinte pontos de QI por um par de ombros largos ou dentes perfeitos ou uma barriga musculosa. Ou os 1,85 m do meu irmão ou os cabelos de mel da minha filha ou a pele maravilhosa daquele rapaz que me vendeu balas intragáveis no ônibus um dia desses...
Mas que sei eu?
Não sei de nada.
Nada...
Então talvez eu não tenha nenhum ponto de QI que possa investir numa barganha por algum atributo que me faça sonambulear melhor pela vida...

Você não sabe de nada, Luiz!
Tenho ouvido isso com tanta frequência e de pessoas tão separadas por tempo, espaço, cultura e situações que sinto aquele estranhamento peculiar de quem subitamente toma consciência de uma dolorosa verdade absoluta.

Você não sabe de nada, Luiz!

Daí a minha sensação de deja vu a cada vez que li em  “Dança dos Dragões” essa frase que ficava pairando sobre a cabeça do personagem Jon Snow.

E eu não sei nada. Talvez fosse o caso de perguntar se alguém realmente sabe, mas estou quase certo de que não vou compreender a resposta.

Não que isso importe. Tenho problemas demais em lidar com a antiga e constantemente renovada consciência da minha própria ignorância, para queimar meus neurônios decadentes meditando o não-saber alheio. O que me incomoda é o fato de que quando alguém me diz: "Você não sabe de nada", está afirmando implicitamente que ela sabe, mas não está e não me parece disposta a me ensinar o que eu não sei e a partilhar o que ela sabe, porque sabendo e mantendo-me na ignorância, mantém também o seu poder e superioridade sobre mim.

E eis o que vim lhes anunciar hoje senhores:

A vossa superioridade.
São, todos vocês, superiores a mim.

Todos vocês, os que sabem, os que conhecem o que há por detrás das máscaras e das palavras. Os que compreendem os meandros e sutilezas das linguagens e das intenções humanas.

Vocês, os que tem defesas, os que conseguem dormir e olhar nos olhos uns dos outros enquanto dormem...

Porque vocês sabem algo que eu ignoro e eu sempre serei um ignorante. E não falo de ignorância socrática, não é o princípio da sabedoria, mas de uma terrificante consciência de que não posso me fiar nem mesmo na minha capacidade de levantar dúvidas.

Eu não sei.
Mas vocês sabem.
Sabem e não vão me ensinar nada e nem eu tenho as condições reais e necessárias para aprender sozinho ou com preceptores.
 Possivelmente, algum defeito na minha capacidade cognitiva ou esse excesso de ligação com o absurdo, fazem-me refém de um autismo moral e eu permaneço em transe, meditando meus próprios processos enquanto a minha volta o mundo gira e muda, as pessoas amam, odeiam, vem e vão e eu permaneço perplexo com os grão de poeira em suspensão nos raios de sol da tarde.

Fiz a mim mesmo uma piada cruel quando nomeei-me Sage, porque intimamente eu sabia que de sábio eu nunca tive nada.  Era, não uma afirmação do que eu pensava ser, mas a de um desejo e uma busca.
Quando o meu ridículo ficou auto-evidente, criatura de hábitos que sou, acrescentei um singelo “h”, para mudar o sentido e transformar o que era um inadequado apelido em algo parecido a um nome. Sahge, porém,  não é menos ridículo ou mais adequado. Por outro lado, se chegarem-se a porta de onde trabalho e perguntarem: “Quem é o Luiz?” cinco ou seis pessoas (dependendo do dia) olharão em sua direção, mas uma delas, e apenas uma delas, é o Luiz que não sabe de nada.
Você não sabe de nada, Luiz.

Verdade absoluta.

Não sei lidar com verdades absolutas.
Não sei de nada, mas bem podiam ter me deixado na ignorância disso também.
Talvez, contrário ao que diz a fé de muitas pessoas, Deus tenha inventado o álcool.
Mas veio o Diabo (sacana dos infernos literais e imaginários) e inventou a solene e ridícula promessa de não beber mais.
E os dois sabem bem que eu, ainda na temporada de trocas, negociaria a receita da Pedra Filosofal e do Elixir da Vida, pelo esquecimento da minha própria ignorância que me proporcionaria uma garrafa ou duas de qualquer bebida ordinária.






domingo, 3 de novembro de 2013

Talvez (elevado a sexta potência)


Dialetizemos as nossas discordâncias na imagem acima.
O que você chama de "felicidade" está aparentemente à esquerda.
O que eu penso ser "liberdade" segue à direita...
É possível que estejamos ambos  em erro e que nem você seja tão feliz quanto pensa e tampouco eu seja verdadeiramente livre.
Talvez eu acabe ficando prisioneiro de minha singularidade,
Talvez você se torne livre do compromisso de ser alguém único...
Talvez seja alto o preço a se pagar por ser livre e, consequentemente, solitário.
Talvez a felicidade da multidão seja uma alegria menor ao que deseja a sua alma...
E talvez eu que busco a liberdade, acabe por me tornar feliz por ter a mim mesmo
E ao abraçar o mundo, você perceba que ficou de mãos vazias,
Ou privando-se de si mesmo você tenha tudo...

Mas aqui, nessa encruzilhada onde nossos caminhos se separam (e porque apenas eu questiono)
Me questiono, e ao fazê-lo penso
Que talvez eu, que questiono, já seja livre, porque ter certeza é ser prisioneiro.
E você, que segue o mundo sem questionar, já seja feliz, porque ser prisioneiro é, de alguma forma, estar seguro...


Fonte da imagem http://www.caulos.com/
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