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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Um Sopro em Minha Estupides




É uma situação desconfortável.
Saber tanto sobre o quão pouco se sabe sobre tudo.  A maioria das pessoas não sabe disso. A maioria das pessoas tem uma sorte danada. Receio que eu não esteja incluído no grupo dos afortunados ignorantes da própria ignorância. A maioria das pessoas é sabia. Eu sou, penso em meu errôneo pensar,  de uma estupidez atroz, tão mais aguda quanto mais ciente dela estou.

Mas tem momentos em que eu quase chego a me esquecer de me lembrar do quanto sou tolo. Tem momentos em que posso sem constrangimento dizer, “Foda-se!”, que é expressão grosseira, mas catarticamente a mais perfeita.
Infelizmente, são momentos bem raros.

Porém, tive um momento meio...místico esta tarde.
Estava sentado num velho e gasto banco de concreto bem de frente para um pequeno  bosque (se posso chamar assim, porque na verdade, trata-se de um jardim com algumas árvores que me agrada pelo seu aspecto meio selvagem) que há onde eu trabalho.  A tarde estava ensolarada e ventava o maravilhoso bafo de agosto. Sei lá como, mas consegui por um momento não pensar em coisa alguma. Nem percebi que estava (ou não estava) pensando em nada quando o vento soprou pelas arvores e uma chuva de folhas secas flutuou em diagonal até o chão do “bosque”. Parecia um instante em câmera lenta e eu acompanhei a queda das folhas até o chão como que hipnotizado. Era agosto (mês de desgosto, de cachorro louco e de ventania) agonizando e enchendo o ar de beleza com seus últimos suspiros.

Foi só então que, alucinando ou não, percebi que por um minuto deixei de ser extemporâneo, desconectei das lembranças do passado e das angustias do futuro e existi dentro daquele exato momento em que vivi  a queda das folhas. Foi bastante estranho  (bonito, reconfortante como uma boa noite de sono, mas estranho) e como na ultima postagem eu disse ( lembrando de uma fala ótima do filme ”V de Vingança”) que Deus(a) está no vento, talvez seja Ele(a) brincando com a minha descrença (como se fosse escolha minha acreditar ou não...) dando uma pequena mostra de sua existência.

 Se foi assim, gostei, especialmente pelo fato de ser (em teoria) uma prova de que Ele(a), caso exista,  ao contrario dos que dizem adorá-lo(a), tem senso de humor.

Lembrei-me de uma conversa antiga com uma grande amiga, uma dessas pessoas maravilhosas que a vida nos arranca de um modo ou de outro (como o vento arranca folhas das árvores), que me disse:
“Quem quer buscar a Deus, na maioria das vezes, deve-se afastar das religiões. O pensamento deve desligar-se dos preceitos acanhados; deve rejeitar as formas grosseiras e irrefletidas que as religiões envolveram o supremo ideal.”

 “Deve estudar Deus na majestade de suas obras”.

Era uma pessoa de grande fé, coisa de que ainda sou incapaz, mas hoje compreendi um pouco mais do que ela queria dizer. Eu acho.

E acho que implico demais com Deus(a). 
E na possibilidade de Ele(a) existir, dá o troco do seu modo.

Eu também tenho senso de humor , mas embora tenha apreciado muito  aquele momento, ainda preferia um desfile de anjos na Praça Sete  ao meio dia ou então que a Pampulha se dividisse ao meio mostrando o  leito normalmente  elameado  limpo e coberto por Maná.
Mas acho que isso seria esperar demais.

 Então, partindo do principio de que (segundo dizem), para Ele(a) tudo é possível, possível é que  nas horas de ócio em que não está distribuindo pragas ou bênçãos para a humanidade (segundo dizem 2), tire algum tempo para ler blogs obscuros.

Nesse caso Deus(a),  caso passe por aqui, saiba que agradeço pelo momento mágico da tarde de sol e vento, pela paralisia do tempo na queda das folhas e pelo instante de silêncio que me proporcionou; e se possível (já que para si tudo o é), gostaria de pedir  que me concedesse a graça de poder ficar inconsciente desse tanto que sei sobre o que não sei, ignorante da minha ignorância e não tão certo da minha própria estupidez.. Faça-o por capricho, por compaixão ou por misericórdia (a mim não interessa tanto o atributo quanto o resultado), mas faça. 
Ser-lhe-ia muito agradecido...

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Príncipes Universais em Lascaux




Você é uma montanha a ser conquistada?
Tem uma montanha perto da minha casa. Bem...Na verdade, não é bem uma montanha (não para os padrões mineiros).
Trata-se de um morro próximo (bem íngreme)  de forma cônica levemente lembrando aqueles desenhos estilizados de montanha,  que na minha infância  minha imaginação atribuía as proporções de um verdadeiro Himalaia.

Passei meus primeiros anos querendo subir lá, sem permissão e para a minha tragédia, eu era o tipo de garoto "obediota" e bem comportado. Não me admira que eu não fosse muito popular entre os outros garotos...E eu nunca subi a tal "montanha". 
Já fazia um bom tempo que eu sequer olhava para lá. Hoje, mais cedo, parei de digitar isso por um tempo e fui à janela. Ainda é um morro de proporção considerável, mas de modo algum lembra aquele simulacro de kilomanjaro, que minha pouca idade ansiava por conquistar.

Engraçado como o tempo parece privar as coisas de sua imponência....Quando eu era garoto e passava horas a fio olhando para lá era um espetáculo: Coberta com uma vegetação rasteira, algumas árvores  miúdas, grama verdinha...Ah e lá  ventava sempre o sol chegava mais cedo e se punha mais tarde ( e se Deus{a} existe, deve morar no vento e no sol!).
O topo parecia estar sempre iluminado e era delicioso  imaginar-me lá no alto dela, sentado como o rei do mundo...
Agora está cheio de casas e tem uma antena de operadora de celular no topo. E embora eu tenha passado a infância sonhando e eu levasse talvez menos de quinze minutos para chegar lá, nem um eco daquele anseio por subir até o alto daquele morro eu sinto.
Comecei com estes devaneios  da  minha infância  para falar sobre o anseio humano por desbravar  florestas ou escalar montanhas, internas, externas, psicológicas, espirituais, morais, filosóficas, físicas e metafísicas. Penso que  todo mundo gosta inconscientemente da sensação quase mágica de ser o primeiro a pisar num chão, vencer um desafio, romper uma resistência, ganhar uma peleja, um debate.

Ser o primeiro, um príncipe do universo.

 Neil Armstrong foi bastante polido e político em sua fala, mas não foi muito  honesto: Ser o primeiro a pisar na Lua, foi um salto inacreditável para aquele homem! Ao restante da humanidade coube o pequeno passo e o incômodo papel de  coadjuvante (contra o que rebela-se toda a nossa vaidade).

Ou como me afirmou um garoto religioso outro dia “somos todos príncipes universais”. Na minha atual queda para o existencialismo, tenho de “concordar” com ele (embora não veja vantagem alguma em ser um "príncipe" num universo onde supostamente todo mundo o é), porque se existe uma força maior que impera sobre o coração do homem, é a ilusão mal disfarçada de ser um “herói cósmico”. O primeiro e mais importante ente a ser considerado pelo universo (razão pela qual já não tenho impulsos de conquistar aquele morro, porque agora mesmo tem uns moleques lá no alto).

"Príncipes do universo". Por muito que tenho visto, sou levado a pensar que todos os seres humanos se vêem assim, embora disfarcem esse sentimento megalomaníaco por detrás de uma tonelada de recursos ideológicos, dentre os quais o mais bonito, comovente e mentiroso é a humildade.
Temos de justificar para o universo a nossa existência. De um modo ou de outro.  É o que nos move e é a nossa maneira de vencer a morte. E é para isso que criamos os deuses: Para sermos através deles, nós mesmos, eternos, incorruptíveis,  mais importantes do que as estrelas gigantescas ou as milhões de galáxias criadas por Eles, que foram ciados por nós.

Acho que pior do que arrogância é a falsa humildade e, ah...Como somos habilidosos em fingir que somos humildes quando isso contraria toda a nossa natureza!



E eu fico aqui, tendo movimentos peristálticos, produzindo gametas, desenvolvendo (possíveis e ignorados) tumores que dia desses darão cabo da minha raça e ainda me imaginando o ser mais importante para os deuses, motivo de rivalidade entre eles e ator principal da tragicomédia do Universo.
O problema é que parece que TEMOS de funcionar assim ou enlouqueceremos por termos de encarar a nossa finitude e efemeridade. A desimportância da nossa existência e a falta do significado para a mesma é peso demais para nós.
Fugindo e voltando ao assunto:Você por acaso é uma montanha?
Bem, se for o tipo de pessoa que declara abertamente as suas dúvidas em relação à própria situação de primícia universal do homem, vai se tornar uma montanha a ser conquistada por qualquer um que se sinta ameaçado em sua posição de “príncipe universal” pelo seu raciocínio.


Você é também um daqueles estraga o natal contando as criancinhas que Papai Noel não existe? Saiba que você tem irmãos no mundo, meu amigo. Eu não o conheço, mas já gosto de você!

 Todo mundo tem um amigo nervosinho com quem os outros gostam de implicar, porque é divertido vê-lo irritado. Bem, se você não exatamente o tipo nervoso, mas sofrer de uma fibromialgia intelectual , então o princípio é o mesmo.  Eles têm que deslegitimar as suas dúvidas, porque elas os ameaçam de algum modo.Elas poem em xeque as certezas deles, das quais consciente e inconscientemente duvidam.

E se existem montanhas inalcançáveis, sempre vai ter alguém disposto a arriscar a vida (em ambos os casos, literalmente), para ser o primeiro a conquistá-la.

Você é uma montanha a ser demolida e reduzida às proporções de um morro ou uma colina. Você tem de ser vencido, conquistado, abatido sem piedade e o primeiro a conseguir fazer isso se sentirá um herói. Se fosse possível, moral e legalmente, é provável que empalharia a sua cabeça e a colocaria como um adereço numa parede, diante do qual contaria as vantagens da vitória sobre si.

Como a lei proíbe, o recurso mas usual é te converter em qualquer coisa que não seja você mesmo e se necessário, deixar por modos subjetivos, escrito em sua mente a seguinte frase imortalizante que podemos encontrar em árvores em meio a florestas ou nos parques: “Fulano esteve aqui”!

Nossos antepassados  em Lascaux (os mais antigos e famosos grafiteiros da história) sabiam disso .
É, ao que parece, outro jeito de se imortalizar.

sábado, 18 de agosto de 2012

Florbela e a Noite do Meu Niilismo



Abaixo está um poema que uma pessoa cuja inteligencia e sensibilidade admiro mais do que posso expressar em palavras me enviou. Fiquei entre feliz e perplexo, pois lendo-o lembrou-se de mim, e de mim mesmo em uma outra instância.
E em uníssono ao espanto pelo (re)conhecimento destes versos que não são meus, mas calam tão dentro de mim que perguntar carece, como não fui eu que fiz(?), eis o que me inspiraram:
                
 ...se até o Nada é relativo, nada é relativo, logo tudo é concreto, absoluto. E o que é absoluto é absolutamente desprovido de sentido, de significado. Mais ainda que o Nada. 

O que isso tem a ver com os versos? Tudo a ver e nada a ver. Porque diabos uma coisa tem que ver com outra para fazer ou não fazer sentido (que dá no mesmo)?
Você talvez nada tenha a ver comigo ou com ninguém...Deixa de ter ou tem mais significado por causa dessa sua singular desconexão com o todo?

Se ao ler isso sentir o seu estômago revirar com essas contradições, alegre-se! 
Pelo menos você ainda tem  um estômago que embrulhar! Eu já não tenho estomago para nada (pois o Nada o devorou). Apenas uma amaldiçoada e confusa cabeça pensante (coisa que ela faz de modo cada vez  mais precário como deve ter notado por essas linhas), que não posso resetar e nem deixar em stand by para dormir um pouco como você e sonhar com amenidades.

Mas hoje é uma noite tão boa quanto qualquer outra para fazer amor com os meus paradoxos.

"Foi tudo em vão até agora!"
Não há relatividade, exceto a relatividade do Nada.
É...meu niilismo não tem futuro. E nem deseja ter.

Eu ...


Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou! 

                                                                                      Florbela Espanca




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