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sábado, 18 de junho de 2011

Sândalo caído - By Sahge



Quem é mais afetado pelo choque;
o Sândalo caído
ou o machado perfumado?
Ironia cruel, vendo o gigante caído,
Penso que o gume frio do machado
Nada vale sem um cabo que o empunhe.
De um galho o Sândalo o forneceu à mão que o deitou.


Observo-o caído interrompendo a passagem.
Caiu sobre a trilha antiga, obrigando os passantes a darem a volta.
Eu o deixarei lá, o bravo gigante!
Ficará ali até que seu tronco se desfaça sob a chuva e o sol.
Um testemunho incômodo, de que ali viveu e floriu.
Perfumou o ar com sua extinção...


Breve a trilha se desviará para o canto
E os viajantes, evitando o tronco,
Passarão ao largo do lago morto.

E entre essas duas coisas mortas,
A trilha da vida dará uma pausa,
Suspirará e tomará um novo alento.
Talvez o lago volte a brilhar, talvez o toco de arvore
Reviva seus galhos de folhas e sombra.
Talvez...


Atrás de mim, sinto a lareira arder suavemente,
Uma frágil flama que se apaga em lento crepitar.
Sinto um impulso de avivar-lhe as brasas
Lançar-lhe uma nova acha que fortaleça suas chamas
Mas não me movo.
Tudo tem um inicio e tudo tem um fim.

O fogo, o Sândalo caído...
Sinto isso, mesmo que minha razão fraqueje em aceitá-lo.


E por mais que eu lamente a queda da árvore
E tema o frio que se instalará na casa e na minha alma
Quando a labareda delicada se apagar,
Quando a árvore morta desaparecer da paisagem,

Deixo que o mundo pulse e siga.
Deixo que a chama apague
Quando poderia usar o velho Sândalo caído
Como lenha perfumada...


Não posso  alimentar meu lume
Com os destroços da agonia alheia,
Com os despojos de um colosso tombado.
Não foi a minha mão, não foi meu o machado...
E não desejo o calor das chamas
a semelhante preço.


Talvez quando a labareda se extinguir por fim,
O frio me expulse dessa janela,
E eu saia ao sol e pegue aquela trilha...

Em direção ao lago morto.



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