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terça-feira, 30 de outubro de 2012

Insuficiências no Envelhecer


O real problema de se envelhecer, é que é este é processo demasiadamente lento.  Ocorre com um vagar que possibilita degustar todas as minúcias dessa decadência sutil. Um cabelo branco a mais, um fôlego a menos, a soma de um cansaço a mais, uma energia  subtraída e do montante, entre perdas e ganhos, resulta  uma impaciência que vai se instalando quando se percebe que já é bem tênue o fio que te liga a quase tudo o que antes te fazia atravessar meio mundo para buscar.

A morte assustadoramente mais perto a cada dia, ameaçando te privar do pouco de alegria e de significado que ainda resta no mundo.

A morte, a mesma morte,  desgraçadamente longe demais para te libertar da angustia que é suportar a angustia de ter que morrer e de ter que viver a morte a cada dia.

Foi o que? Cinco ou seis anos atrás? Você estava atrasado e corria dois quarteirões morro a cima para pegar o ônibus. Agora, quando tenta fazer o mesmo, pára na metade do caminho  sentindo seus pulmões e garganta em fogo e seus joelhos feito água. Mas não o suficiente. Você está velho, meu caro, mas não o suficiente.

Daí quando você viaja para algum lugar, se apaixona pela estrada, pelo percurso...E sonha nunca chegar ao destino e jamais retornar ao ponto de partida. Você sente inveja de tudo o que se vai, de tudo o que vira a esquina e tem a liberdade de se ir, daquele saco plástico que o vento da tarde arrastou para o céu e para longe... 
Você sonha em cair pra cima e flutuar para sempre sobre os grandes vazios da terra, sobre os desertos, geleiras, campos  e mares infinitos...Cruzando ocasionalmente com aquelas outras almas flutuantes...

Mas, oh, diabos! O metrô está lotado como sempre, mas não o suficiente para te esmagar de vez e te libertar do peso do esmagamento.  O calor está infernal na cidade, mas não chove nem água para aplacar o calor e nem fogo para purgar essa Gomorra belorizontina de seus pecados mundanos.  Os pecados de BH não são o suficiente para merecer um dilúvio de fogo. Aquele cidadão está irritadíssimo porque você explicou pela décima vez que sim, vai ter de pagar tal e tal taxa municipal, mas a raiva dele é insuficiente para que tenha um dia de fúria e saque uma arma e liberte a si mesmo e a você da angustia de ter que discutir por uma quantia, que ele provavelmente gastaria em alguma banalidade...

O problema de se envelhecer, é que isso ocorre de um modo modorrento demais para que você se importe em estar envelhecendo. 

Você nem mesmo fica velho o suficiente para lamentar a perda da juventude. 

E nem celebrar a chegada da maturidade. Porque você sabe, com uma percepção que só tem quem deseja cair para cima, que nunca foi jovem o suficiente para viver irresponsavelmente uma infância e puberdade. Havia sempre uma sensação gelada de que havia mais na vida do que a efemeridade dos folguedos e você olhava pra cima enquanto o mundo corria a sua volta. E você envelhecia lentamente, percebendo  que o fazia.

Também  jamais será velho e sereno o suficiente, ainda que viva um século, para aplacar a inquietação. Haverá sempre a arder o calor de saber que o céu, por mais infinito que seja, é insuficiente para  conter o seu desejo...De flutuar para sempre.
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