Este é o meu quarto blog. Os outros três implodi pelo mesmo
motivo:
Passado algum tempo, comecei a me preocupar em
demasia com a qualidade estética daquilo que escrevia, procurando a forma em
detrimento do conteúdo e ficando reptilicamente envaidecido pelos
elogios que as coisas que escrevi recebiam. Fiquei excessivamente cordial. Curiosamente, era justamente aquilo
que eu considerava o mais superficial e óbvio dentre o que eu escrevia
a agradar. Então envergonhei-me, senti-me alienígena
daquilo tudo e abandonando as cascas anteriores, iniciei este meu Psicodellias em 06/01/2011.
http://sahgelk.blogspot.com.br/2011/01/primeiro-post-by-sahge.html
http://sahgelk.blogspot.com.br/2011/01/primeiro-post-by-sahge.html
Para a minha surpresa, passados inacreditáveis vinte meses,
ainda não explodi este. Mas ele anda correndo um serio risco.
É que os primeiros três tive de destruir quando entendi que eles
começaram a ter um propósito e como sou partidário do Caos, penso que as coisas
que realmente merecem a existência são justamente aquelas que não
têm ou não servem a propósito algum ou a ninguém.
E agora, com as sutis raias da minha cada vez mais esmaecida capacidade
de reflexão, entendo que este blog está servindo a um propósito.
O propósito é encontrar você.
Ou ser encontrado. Dá no mesmo. Fazendo a equação de modo contrario,
realmente o caos dos fatores não altera o resultado.
Já me perdoei por isso. Não foi nunca a minha intenção. Um propósito
freqüentemente não se revela para mim até que eu o veja delineado em algum
subterfúgio ou comportamento meu. E eu percebo, por muito e por pouco que
escrevo nos últimos tempos quase como se falasse a alguém. Agora o
“quase” me abandonou e estou sob o julgo desta certeza.
Eu falo a Você.
E também estou subjugado por outra ainda mais pesada, a
certeza de que nossos caminhos provavelmente não vão
se (re)encontrar e você se sentirá órfão de mim quando passar por
aqui e eu já estiver longe quanto eu sinto agora o peso da sua
falta. Da falta daquilo que eu não tive e provavelmente não terei.Sim, eu snto
falta do que não tive. E você também...
Ou eventualmente nossos caminhos se cruzam e você ou eu
fugiremos apavorados ou não nos reconheceremos. Os nossos encontros serão
sempre tardios ou prematuros. Parece ser a nossa sina e eu espero sinceramente
que os que vierem após este nosso tempo de desencontros, encontrem um meio mais
eficaz de permanecerem juntos. Daí teremos realmente uma tribo de Eus e não um
amontoado de indistinto “nós”. É um plano ambicioso, uma (re)união de Eus e me
revolta até a raiz da alma pensar que provavelmente não estarei por perto
quando tal se concretizar.
Eu escrevo sobre o nada, mas não escrevo para o nada. Eu escrevo para
você, que é um “Eu“ anacrônico, que percebe que está numa situação de singular
contrariedade com os muitos meios em que vive. Você que é sutil em sua peculiar
condição de ser pensante, inquieto. Você que incomoda os acomodados com a sua
existência intensa. Você que mesmo que queira, não pode ser ignorado. Você que
deixa sua consciência flutuar no zumbido da própria consciência e pondera
porque não pode realmente viver um instante dentro do tempo, enquanto a sua
volta fala-se, vive-se e morre-se em banalidades... Você...O mundo tem batido
forte, não é? O Mundo tem sido implacável...
Bem há um sistema, e a homeostase diz que o sistema tem que permanecer
em seu equilíbrio estagnado e você, meu caro, você é a doença do sistema. E ele
quer te combater e te enquadrar. Eu o cumprimento por isso! Você é da minha
tribo.
Você já não teme jogar pedras nas muitas cruzes onde querem pendurar o
seu ser. Você sofre e ao mesmo tempo ama e se agarra às suas contradições, ás
suas imposturas e o modo magnífico que você abandona falsas idéias e ideais com
a mesma facilidade com que os outros trocam de namorados ou celulares.
Você não tem. Você não está. Você É.
E ninguém, e receio dizer, nem mesmo você, pode te tirar isso.
Você flui. Você não pode fugir desse enxame de inquietações e de
pensamentos.
De imediato te presenteio com mais um, que talvez melhore suas poucas horas de sono conturbado:
Abandone a paixão por essa sua dor constante de pensar que você é o
único da sua espécie. Não é. Existem vários dessa nossa tribo
esparsa (eu mesmo já conheci alguns, mas penso que talvez tenhamos virado curvas
demais para longe uns dos outros), mas nós...
Nós nos evitamos, olhamo-nos com desconfiança quando nos percebemos, nós
nos tememos mutuamente, nós não sabemos o que querer um do outro (até porque é
o inferno que queiram algo de nós). Encontrando-nos, sentimos perto, um do
outro, renovar a coragem para ser um Eu, e isso ocorre quando estamos quase e
finalmente nos rendendo a doutrinação do coletivo.
Nós não podemos ficar unidos porque o aço afia o aço e quanto mais perto
de um Eu você estiver, mais um Eu você será e lá no fundo, bem lá no fundo de
você há o vil, inconfesso e repugnante desejo de ser “nós”, de se render ao
coletivo , de se fundir a massa que divide em ombros desprovidos de
singularidade a pesada carga de ser humano.
É, talvez, o nosso desejo mais recôndito, contra o qual nos rebelamos e
eu o confesso sem pudor algum porque talvez por já me considerar
velho demais para a teatralidade da negativa obstinada, ou talvez por ter a
clara consciência de que se fosse dada a oportunidade, nenhum de nós da Tribo,
nem eu, nem você, nem nenhum outro Eu aceitaria. Seria a morte em
vida. E queremos viver vivos!
Daí um dia você passará por aqui e eu talvez já
esteja alhures.
Acontece com uma freqüência desconcertante, quase como se
nós, que somos anomalias ambulantes, tivéssemos em nosso caos organizado, uma
ordem caótica a ser seguida.
Espero que não. Gostaria mesmo de conhecê-lo. Caso não
ocorra, caso o mundo me arraste como arrastou a tantos outros... Eu lamento
muitíssimo, porque conheço a sensação que você está experimentando agora.
É sem pretensão que as coisas ocorrem. Ainda tenho alguma lenha a
queimar e gosto de escrever muito mais do que sei fazê-lo. Então este talvez
não seja o meu ultimo post, como o titulo sugere. Não planejo sumir
por ora. Conheço-me o bastante e daqui a uma hora ou um dia, cismo, volto aqui
e posto outra coisa, mas como quase tudo o me acontece, ocorre a revelia da
minha vontade, então é possível que eu saia por um minuto para comprar pão e...
Bem, digamos que o Nada tem fome e gente como nós é seu prato predileto.
Cuidado com o Nada meu caro!
Deixe um legado.
Deixe uma trilha que outros possam seguir. Deixe que alguém se
reconheça naquilo que você é.
É a nossa maneira de nos reproduzir. É uma produção assexuada, de modo
que ainda que você não tenha os meus genes, se o seu despertar se iniciar ao
ler qualquer uma das minhas linhas, se você cruzar a porta movido por qualquer
coisa que eu tenha dito, então você é meu/minha filho (a), pai, mãe, irmão ou
irmã e mesmo sabendo que você um dia me odiará por ter tirado você do seu
lugar de conforto, mesmo sabendo que talvez eu nunca te (re)conheça,
precisa saber que eu sei quem você é. E há outros que sabem. Só tem de nos encontrar.
Agora eu vou ali e já volto.
Já acompanhei seu blog lembra?
ResponderExcluir3 anos de vindo até aqui , lendo e muitas vezes não deixar algum comentário delirante meu.Mas leio.Enfim,me assustei pelo título do post.rs
Não me sentindo especial;quando fui lendo e lendo,parecia que estava dialogando comigo neste texto.
Como dizem : "Aponta pra fé e rema"
Beijos na sua Alma