...Bem antes do que eu gostaria. Que diabos!
O mundo não dá uma folga nem para a minha preguiça de me
irritar com tudo.
Sábado, sete e quarenta da manhã, pego o ônibus para ir à
faculdade. Calor infernal, o que me agrada bastante porque para o tipo de
criatura que sou, mesmo se chovesse fogo do céu ainda estaria frio. Mas, claro,
não penso unicamente no meu conforto e já passou da hora de cair uma chuva por
aqui para acabar com esse mormaço terrível que cobre BH.
Entrei no ônibus já com o humor não dos melhores.
Saído de sei lá de que buraco, entra um casal. Cabelos desgrenhados, roupas sujas
cheirando a suor de muitos dias e a álcool. Pinga de má qualidade para ser mais exato.
Jesus! Sete e quarenta da manhã!
Carregavam o que parecia ser uma TV de LCD ou coisa
parecida. O Homem, cerca de trinta anos ou mais ou menos, entrou pela porta do
meio, deixou a TV e voltou para se
sentar nos bancos dianteiros, bem debaixo de um letreiro onde dizia: “Reservado
para idosos e portadores de necessidades especiais”
A única necessidade especial que aquele ali tinha, era a de
um bom banho! Com urgência!
A mulher sentou-se bem na minha frente, ocupando dois bancos
com a Tv no colo. E a viagem seguiu por uns dois quarteirões, quando ela sacou de uma bolsa ou sacola o que parecia ser um “marmitex”.
Para quem não conhece o termo, trata-se de uma embalagem feita de papel alumínio
amarrotada, simulando o que deveria ser uma marmita. Meu deus!
Macarrão alho e óleo e arroz! Dentro do ônibus! E uma droga de molho qualquer cujo cheiro
forte e enjoativo deu-me um murro no estomago, lembrando-me de que na pressa de
sair acabei não tomando café. E só o diabo sabe onde aquela mulher
conseguiu um garfo. Juro! Um garfo de metal dentro do ônibus as sete e quarenta
da manhã de sábado!
Agora pensando naquilo, não sei dizer o porquê não levantei
e fui para os bancos traseiros do ônibus ou então descido. Porque o dia já
começou mal e se eu tivesse um pouco de inteligência, teria visto nisso um
sinal dos céus, descido do ônibus e voltado
para a casa e ficado por lá até depois de meia noite. Talvez o domingo
começasse de modo mais ameno.
Então...
Sentado estava, sentado fiquei, talvez me penitenciando por
alguma coisa. Excesso de pecados necessitando serem purgados talvez... Enquanto
aquela mulher devorava aquela comida
que, de certo, era do dia anterior, fiquei pesando: “Por favor, me decepcione e
não jogue os restos pela janela...”
Pois a criatura pareceu adivinhar-me os pensamentos e depois
de uns torturantes minutos comendo, embrulhou os restos dos restos e atirou
pela janela. Depois sacou três Yakults
da sacola, tomou os três de um gole sé e lá se foram as embalagens voando pela
janela do ônibus. Que combinação maravilhosa de uma refeição matinal! Macarrão
alho e óleo e Yakult!
Ainda fez uma “limpeza” na sacola que levava, tirou os
restos mortais de outros alimentos e porcarias anexas e jogou tudo pela janela
após o que, começou a chupar os dentes e
a limpá-los com a unha suja do dedo mindinho. Um fragmento de comida voou e
ficou pregado no vidro da janela. Passou a poucos centímetros do meu rosto e eu
fiquei gelado pensando nos vinte anos ou mais, que eu certamente passaria em um
presídio qualquer cumprindo pena por “maloqueiricídio”, caso aquilo caísse em
mim.
E já estava engolindo de volta a
bile que me subia como ácido pela garganta (porque estava certo de que ia
vomitar e como estava com o estomago vazio de tudo o que não fosse ódio, tenho
certeza de que vomitaria Napalm), cabeça doendo de raiva e enjôo quando eis que entra um sujeito...Que
foge a qualquer definição.
O ônibus estava quase vazio, mas o tal fez questão de ficar
em pé, naquele espaço em meio ao ônibus que é reservado aos cadeirantes. Apoiou o traseiro na barra de ferro bem na
direção de quem estava sentado. No caso, de costas para mim e para a educada
senhora que acabara de fazer a sua sofisticada refeição matinal.
Nada demais, mas o sujeito que... Porta alguma adiposidade,
tendo-a concentrada quase que exclusivamente na região sobre os glúteos ( que
numa vaca chamaríamos “alcatra”), estava usando calças largas demais, sem cinto
e por efeito da gravidade (e da total ausência de bom senso), calças e cuecas largas caiam.
Que é que meus pobres olhos fizeram para merecer semelhante espetáculo?
Resultado ostentoso
do seu apetite, o sujeito certamente estava orgulhoso de sua obra, posto que ao
sair de casa, deixava-a a vista de todos. Um artista sem dúvidas!
E, de certo, o tal era aparentado dos lobisomens ou da nobre
família dos ursos pardos, porque eu certamente poderia passar umas trinta
encarnações ou mais sem ver semelhante coisa, mas a não ser que se tratasse de um boi
almiscarado dentro do ônibus, aquela foi certamente a “alcatra humana”mais cabeluda que meus olhos
já tiveram o desprazer de olhar.
Que droga de mundo horrível! Principio da Alteridade,
descanse em paz!
Macarrão com Yacult, lixo voando pela janela e um “cofre cabeludo” às malditas sete e
quarenta de uma maldita manhã de sábado!
Horror! Horror! Horror!
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