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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Não Pise na Grama




Então me sentei ao pé daquela  árvore. Chutei para longe a plaquinha recém colocada com os dizeres “não pise na grama” e pensei irritado para que diabos serviria uma grama senão para ser pisada, senão para ter a sua suavidade sentida pelos pés cansados...Confesso:sou a porcaria de um utilitarista, e a praça tem trocentos metros de grama e não iria ser daquele pouco mais de metro e meio que eu iria abrir mão.

E fiquei durante um tempo  gozando a sensação bem familiar de não ter, a não ser o pé daquela árvore dentre todos os lugares do planeta,  lugar algum neste planeta que eu pudesse  chamar de lar. 

Sensação reconhecível como minha, coisa mais familiar do que a alma que me habita, rebelando-se, protestando para abandonar-me, porque assim como não reconheço neste mundo como lar nada que esteja além das fronteiras do pé dessa árvore, minha alma não reconhece  como casa o corpo que habita e eu permaneço em fragmentos e em discordância até com as minhas contradições.

E o inferno sorri...

...e então quando sinto a grama e olho por momentos para essa praça, tudo tão frágil e tão brilhante; cachorrinhos, flores, crianças, pássaros e o som fervilhante da cidade em torno dela,  a cena  se move em minha mente e por uns momentos chego a duvidar de que algo de fato morra no mundo...

Daí a mesma grama me lembra, minha mente salta a cena e eu vejo a teatralidade, a maré de gente perdida de si, fantasmas pálidos se aquecendo em banalidades enquanto a iluminação de natal desmorona,  a cena congela em meu coração e chego a duvidar de que algo no mundo de fato viva...

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