É uma situação desconfortável.
Saber tanto sobre o quão
pouco se sabe sobre tudo. A maioria das
pessoas não sabe disso. A maioria das pessoas tem uma sorte danada. Receio que
eu não esteja incluído no grupo dos afortunados ignorantes da própria ignorância.
A maioria das pessoas é sabia. Eu sou, penso em meu errôneo pensar, de uma estupidez atroz, tão mais aguda quanto
mais ciente dela estou.
Mas tem momentos em que eu
quase chego a me esquecer de me lembrar do quanto sou tolo. Tem momentos em que
posso sem constrangimento dizer, “Foda-se!”, que é expressão grosseira, mas
catarticamente a mais perfeita.
Infelizmente, são momentos
bem raros.
Porém, tive um momento meio...místico
esta tarde.
Estava sentado num velho e
gasto banco de concreto bem de frente para um pequeno bosque (se posso chamar assim, porque na
verdade, trata-se de um jardim com algumas árvores que me agrada pelo seu
aspecto meio selvagem) que há onde eu trabalho.
A tarde estava ensolarada e ventava o maravilhoso bafo de agosto. Sei lá
como, mas consegui por um momento não pensar em coisa alguma. Nem percebi que
estava (ou não estava) pensando em nada quando o vento soprou pelas arvores e
uma chuva de folhas secas flutuou em diagonal até o chão do “bosque”. Parecia um
instante em câmera lenta e eu acompanhei a queda das folhas até o chão como que
hipnotizado. Era agosto (mês de desgosto, de cachorro louco e de ventania)
agonizando e enchendo o ar de beleza com seus últimos suspiros.
Foi só então que, alucinando
ou não, percebi que por um minuto deixei de ser extemporâneo, desconectei das
lembranças do passado e das angustias do futuro e existi dentro daquele exato
momento em que vivi a queda das folhas.
Foi bastante estranho (bonito,
reconfortante como uma boa noite de sono, mas estranho) e como na ultima
postagem eu disse ( lembrando de uma fala ótima do filme ”V de Vingança”) que
Deus(a) está no vento, talvez seja Ele(a) brincando com a minha descrença (como
se fosse escolha minha acreditar ou não...) dando uma pequena mostra de sua
existência.
Se foi assim, gostei, especialmente pelo fato
de ser (em teoria) uma prova de que Ele(a), caso exista, ao contrario dos que dizem
adorá-lo(a), tem senso de humor.
Lembrei-me de uma conversa
antiga com uma grande amiga, uma dessas pessoas maravilhosas que a vida nos
arranca de um modo ou de outro (como o vento arranca folhas das árvores), que
me disse:
“Quem quer buscar a Deus, na
maioria das vezes, deve-se afastar das religiões. O pensamento deve desligar-se
dos preceitos acanhados; deve rejeitar as formas grosseiras e irrefletidas que
as religiões envolveram o supremo ideal.”
“Deve estudar Deus na majestade de suas
obras”.
Era uma pessoa de grande fé,
coisa de que ainda sou incapaz, mas hoje compreendi um pouco mais do que ela
queria dizer. Eu acho.
E acho que implico demais
com Deus(a).
E na possibilidade de Ele(a) existir, dá o troco do seu modo.
Eu também tenho senso de
humor , mas embora tenha apreciado muito aquele momento, ainda preferia um desfile de
anjos na Praça Sete ao meio dia ou então
que a Pampulha se dividisse ao meio mostrando o
leito normalmente elameado limpo e coberto por Maná.
Mas acho que isso seria
esperar demais.
Então, partindo do principio de que (segundo
dizem), para Ele(a) tudo é possível, possível é que nas horas de ócio em que não está
distribuindo pragas ou bênçãos para a humanidade (segundo dizem 2), tire algum
tempo para ler blogs obscuros.
Nesse caso Deus(a), caso passe por aqui, saiba que agradeço pelo
momento mágico da tarde de sol e vento, pela paralisia do tempo na queda das
folhas e pelo instante de silêncio que me proporcionou; e se possível (já que
para si tudo o é), gostaria de pedir que
me concedesse a graça de poder ficar inconsciente desse tanto que sei sobre o
que não sei, ignorante da minha ignorância e não tão certo da minha própria estupidez..
Faça-o por capricho, por compaixão ou por misericórdia (a mim não interessa
tanto o atributo quanto o resultado), mas faça.
Ser-lhe-ia muito agradecido...
Oi meu querido amigo!
ResponderExcluirAs vezes olhamos a mesma paisagem mas nem sempre sentimos o que é para sentir.E, se sente não se percebe.
Incrível,as coisas mais simples faz um bem danado, eu diria;só olhando e sentindo com o sentidos da ALMA que faz sentido sentir.
Ps: super confusão de palavras.
Parabéns pelo excelente post, como sempre.
Beijos na sua grande Alma
Lili...
ResponderExcluirA vida é febre, né?
Esse foi um momento de refrigerio, eu acho, como se tivesse tomado um antitermico mental...
Mas você está certa. Sentir com os sentidos para alem da razão é um modo de deixar de ser extemporâneo.
Pena que eu aparentemente tenha uma sensopercepção embotada para certas coisas.
Obrigado por vir e por gostar.
ResponderExcluirPS: Não houve confusão alguma nas suas palavras Lili.
Talvez alguma no meu modo de entender, que quase sempre toma atalhos (contra a minha vontade). Mas a parte a minha natureza atordoada, creio que nos compreendemos bem
Escreve muito bem Sahge .
ResponderExcluirÉ,a vida é febre ...concordo profundamente.
É sempre bom ler o que escreve.
Abraço