Uma vez me disseram, que na raiz de toda ação está, ou a necessidade ou
a vontade.
A pessoa que me disse isso está mais qualificada do que eu para falar sobre a motivação do movimento ou inércia das coisas outras do universo afora, posto que é estudioso dessas coisas. Só posso falar por mim, embora não seja sequer graduado em mim mesmo.
Na raiz de quase todas as minhas ações ou inações, está o cansaço.
Me movo por estar cansado de estar parado e paro por estar cansado de me mover.
Tenho quase certeza de que foi o cansaço, mais do que o fim do período natural de gestação, que me fez sair já com uma preguiça enorme, da barriga da minha mãe, onde acabei entrando por estar também cansado de ser sempre a possibilidade de ser uma pessoa.
Depois desse ultimo ano, cansei de falar pra mim mesmo o tempo todo, coisas que bem poderiam azucrinar cabeças alheias. Lá no fundinho da consciência há um dedo acusatório, um dentre milhares de filhos-da-puta-acusadores, que me denuncia a mentira velada, que está disfarçada mas que no fim é apenas o velho desejo de ser relevante que move meus dedos neste teclado novamente.
Mas estou certo de que justifico pra mim mesmo.
Não há uma só promessa que tenha feito a mim mesmo que não tenha quebrado. Posso viver com isso. Enquanto eu viver, prometo solenemente quebrar todas as promessas que a mim mesmo fizer. Ha outro modo de admitir os próprios erros?
Bem, aqui estou.
Nesse hiato de tempo entre minha ultima despedida deste espaço e hoje, aconteceram algumas coisas. Ninharias, é claro, mas quando você reencontra algum conhecido na rua, só se interessam pelas ninharias da sua vida.
“Já casou?” é a favorita das pessoas e nove entre dez que te encontram na rua te perguntam isso. Dá vontade de responder, “Não, não casei, mas atropelei um cachorro sem querer, atrasei a entrega da declaração de imposto de renda, minhas plaquetas estão baixas e um cara com quem troquei socos anos atrás fez cirurgia e agora é mulher e estou me sentindo um canalha por ter brigado com uma garota (e envergonhado também, porque no fim das contas, ela, que era ele na época, era boa de briga e eu apanhei mais do que bati)...Quer saber mais alguma coisa?”
Tudo isso aconteceu no ultimo ano (com exceção do atropelamento, que inventei apenas para horrorizar meu suposto interlocutor).
A idade cronológica finalmente me alcançou neste ultimo ano e como sinal da minha decrepitude, agora tenho que usar óculos. Disseram que minha higiene é duvidosa e eu correria riscos se teimasse em usar lentes de contato. Depois de agradecer o aviso com um sonoro “vá se foder”, resolvi acatar o conselho, porque posso não ser um exemplo na higiene, mas não sou completamente estúpido. Ou perderia a porcaria das lentes ou pegaria uma infecção nos olhos. Relutei, refuguei e fiquei horrorizado quando os óculos ficaram prontos, mas, caramba! A maldita coisa é excelente! Consigo enxergar maravilhas com essa droga no rosto e só depois de voltar a enxergar direito, é que percebi como estava sofrendo pra ler.
Ademais, como vou brigar com bolsomínions no Twiter se não enxergo a porcaria das letrinhas do celular?
Uma saliência incomoda se alojou um pouco acima da minha cintura no ultimo ano e, vida tranquila e comida demais me instalaram uma ‘pochete” adiposa na linha da cintura, que meus detratores (os mesmos que sentenciaram minha higiene duvidosa) insistem que “só sai com cirurgia”. Ao que eu digo: Esperem só! Tiro essa merda com caminhadas e abdominais em tres meses!
Isso foi ha um ano...E a pochete continua aqui, infelizmente.
Mais novidades?
Na ultima semana peguei COVID. Não obstante litros e mais litros de alcool gel, caminhando quatro quatro quilômetros e meio a pé na ida e volta ao trabalho para evitar ônibus e demais cuidados, sou diagnosticado com a porcaria do vírus e embora não tenha tido até o momento maiores problemas, (a não ser febre noturna nos primeiros dias, durante as quais creio que tenha brigado feio com deuses e diabos) estou assintomático..
Fiquei um tanto mais corajoso no ultimo ano, coisa que, espero, fique evidente na minha escrita.
Não o tipo de coragem que me faria saltar de pára-quedas ou mergulhar com tubarões, mas ...Não sei dizer...A coragem que vem da admissão da transitoriedade de tudo o que se ama.
E também o desejo de tacar pedras psicológicas no ideário incorruptível que criei dentro de mim mesmo, para prestar culto e reverencia, enquanto virava as costas as outras coisas que me ensinaram que eu deveria reverenciar. Decidi que isso igualmente é digno do meu desdém.
Pensei em escrever algo digno do meu desejo de retorno a esse teclado, mas eu sabia que ia me repetir aqui.
Coisa que ja faço desde de 2011.
Lá se vão doze anos de loop nas minhas ideias e, relendo, bem, ha coisas
das quais efetivamente me orgulho de ter escrito.
Em outras eu sinto aquela frustração advinda do divã, quando, depois de anos de análise, já me imaginado um ser humano ressignificado, me pego novamente a falar de minha mãe, como se estivesse na primeira consulta ainda.
É muito frustrante e ainda que minha vida tenha sido uma coletânea de frustrações, não envelheci o bastante para as aceitar com o estoicismo necessário a não tomar decisões baseadas no cansaço de dar voltas em torno de mim mesmo.
Mas se eu esperar que me surja o ímpeto ou aquela velha ilusão de que eu poderia reinventar a roda, acho que nunca mais escreveria nada...
Isto dito, vamos as letras...
Já aceitei que sou uma pessoa repetitiva, nos últimos meses o que mais sentir foi a impressão de ter 7 anos novamente... Acho que continuo escrevendo como quando tinha 7 anos, vejo a hora começar um post com "Querido Diary" (chamava meu diário de Diary, acho cativante hoje, mas já achei uma vergonha tbm kkkk).
ResponderExcluirCheros Sahge, que bom mexer no blog e encontrar algo aqui e isso foi escrevi em julho do ano passado, como não vi... meu Deus, por onde andei se não sai de casa ano ano passado inteiro?!?!?
Aaahh, também tenho sentindo a idade... vou fazer 35 em alguns meses, é um saco, eu que me achava gorda com 24 descobri que naquela eu era muito da anoréxica e agora tenho que encontrar um equilíbrio entre não ganhar peso desgovernadamente sem voltar a ser anoréxica, pq meu estomago não aguenta mais aquelas praticas e me diz todo dia: "Eu não tenho mais 20 anos sua LOKA!"
Querida amiga...
ResponderExcluirSomos ambos repetitivos.
Onde andamos no ultimo ano?
No meu caso, posso dizer que andei onde andei nos anos anteriores - Girando na orbita de mim mesmo.
Sempre é reconfortante te ler por aqui.
A vida leva tanto e tantos embora...
Que lindo é perceber que algo fundamental fica.
E você, minha primeira amiga desses caminhos de bits e bytes, foi também a primeira coisa boa que a net me trouxe.
E a uma das poucas coisas boas que a vida não me levou.
O tempo e a gravidade, se aliam à idade e não respeitam a vaidade...
Kkkkkkkkkk.....
Tenho pensado muito nisso, agora que finalmente encontro um ou outro fio prateado na minha barba antes impecavelmente negra.
Cheros, Pan..