Desde
que comecei a "escrevinhar" aqui, em idos 2011, forjei no
meu entusiasmo 356 postagens(boa parte deletada em meio a ondas tolas
de constrangimento), a maioria coisa minha, digitada no afã de ser
relevante.
Pra
não falar de outras coisas postadas em blogues deletados e em outros
lugares por onde “pisei”
Mas
por quanto tempo pode uma pessoa iludir-se a respeito da própria
grandeza ou mesquinhez?
Olhando
em retrospecto, meus motivos para escrever nunca foram puros..
Ora
queria impressionar certa garota (que em minha imaturidade
trintenária pré-"quarentária" eu imaginava que sorvia em
secreto todas as minhas letras e, diabos me levem, talvez nem fosse
uma garota de verdade! Mundo liquido da net e seus descaminhos...),
ora queria escrever e me colocar em condições de me comparar
a meus escritores favoritos ou então tentava convencer a mim mesmo
de algo.
Algumas vezes estava só com raiva ou melancólico...
De
toda forma, quem é que pode afirmar para si mesmo que escreve com
honestidade pura?
Toda
essa minha glossolalia era um fútil exercício de afirmação de uma
existência, e isso me parece agora tão desimportante que sinto uma
pontada de desdém por mim mesmo, pois ao digitar isso agora, muito
provavelmente estou me justificando e ainda no esforço inútil de
existir para além da minha realidade individual.
Tem
umas coisas que me deixam curioso... Quando checo as estatísticas, a
a maior parte do trafego para meu blog vem de sites pornográficos.
Não sei o motivo, mas se ao menos eu pudesse imaginar que meus
devaneios deixam alguém com tesão, já teria valido cada teclada!
Ahahahahahah!
Eu
não sei se alguém ainda lê alguma coisa.
E
mesmo que haja, nada tenho de relevante a acrescentar a essa
superprodução de verdades fugazes.
Já
estou com 45 anos e, Deus, daqui a pouco eu morro e não curei o
câncer salvando milhares e tampouco joguei lixo nuclear na
Praça 7 tornando BH inabitável por 1000000000000 anos e ainda penso que é terrível
ser só mais um a pegar uma senha e aguardar na fila a minha vez
de ser coisa alguma.
Ter
todos os sonhos do mundo dentro de si não nos faz necessariamente
deixar de ser o nada querendo ser alguma coisa.
Muito
menos ser melodramático..
Devaneios...
É
um ato de gentileza de minha parte não acrescentar mais nenhuma
irrelevância ao muito que já existe por ai.
São
poucos os que leem agora.
Com
raras exceções (Gaiman é uma dessas), tampouco ando lendo o que se
produz por ai (ainda aguardo a conclusão de Guerra dos Tronos que o
filho da puta do Martin teima em deixar na gaveta!). Ja estou cansado
de reler os livros que já li sei lá quantas vezes e quando leio
algo na net, me apaixono mais pela pessoa que escreveu do que pelo
que foi escrito (por que o que foi escrito já o foi antes, por
muitos outros e me encanta ainda haver Quixotes a bater moinhos).
Não
sei para que tipo de mundo caminhamos sem letras...Sem leituras...Sem
livros...
Mas
quer saber?
Que
diferença faz?
O mundo acaba quando a gente morre, não é?
Ok, não jogo lixo no chão e evito como posso sacanear o planeta, mas no fim, mesmo que eu jogasse lixo na rua todos os dias, o planeta vai se recuperar de qualquer estrago que eu, individualmente, fizer assim como vai ser irrelevante qualquer coisa positiva que eu também faça.
Dentro
do pouco que eu entendi ser a minha habilidade, tentei fazer algo
(por motivos egoístas, já deixei claro, mas comparações
inadequadas a parte, vai checar porque é que o Carrol escreveu Alice
no País das Maravilhas...), tentei registrar nem que fosse o meu
espanto por estar espantado...
Mas
agora...
Pensei
em sair de fininho.
Mas
gente vaidosa nunca consegue o fazer, pois teme intimamente que se o
fizer, ninguém notará.
Passei
os últimos minutos rascunhando estes versos abaixo:
"A
estrada é longa e devo toma la sozinho
A
senda das sombras, A Jornada solitária...
A
porta abre e a noite sopra promessas
De
caminhos desimpedidos de chuva,
De
estradas não lameadas
De
dunas infinitas sob o açoite do vento e de praias vazias...
A
estrada é longa e devo tomá-la sozinho
Atrás
de mim o canto e os risos sobem com a fumaça das chaminés,
E
eu não ouso me virar
Os
corpos junto ao fogo e o aconchego camarada.
Os
convivas da festa se alegram e ignoram a noite por detrás da
segurança das paredes frágeis.
O
estrada é longa e devo tomá la sozinho..."
"Caminhos
desimpedidos de chuva..."
Ta
bom...
Coisa
piegas e melodramática!
Bem
o que eu imaginava que ia me tornar, perto do inicio da minha
decrepitude.
Em
2008, quando comecei a me enredar pelos bits e bytes da net, travei
conhecimento com uma amiga com quem não falo ha muitos
anos...(Nossa, me deu um aperto de saudade e uma onda de autoraiva
por minha estupidez covarde..)
Espero
que o Rio Grande esteja tão grande quanto está ao Sul, Fada da
Montanha Enluarada...
Ela
me presenteou, logo que começamos a conversar com estes versos
abaixo, os quais, segundo ela, faziam-na pensar em mim:
"vou
pegar um vôo
antes que seja tarde demais
eu vou, não
volto
nem por céu, nem no cais
vou até os astros
antes
que entardeça horizonte
eu vou, sem rastro
bem de fronte, bem
na fonte
vou sem hora, sem demora
aventurar em outros
ares
que aqui não mais posso ficar
no ansiar por novos
mares
vou sem rota, sem derrota
procurar outra parte
de mim
que não sei onde perdi
no começo ou perto do
fim"
(Cris de Souza & Cáh Morandi)
Agora,
ainda que não possa mais ter ilusões a meu respeito, me digam se
não tive bons motivos como meios de justificar minha vaidade?
De
todo modo, isso foi em 2008 e embora a proximidade de meu horizonte
de eventos particular tenha me dado mais serenidade/senilidade.
a ânsia por novos ares permanece uma constante e eu acho
uma pena deixar esse espaço depois de todos esses anos, mas...
…
Bem,
digamos que não se deve colocar um ponto final onde bem cabem
reticencias...
Mas
por enquanto, “vou até os astros”
Acho que sou viciada na virtualidade, não consigo largar, mesmo que me torne esporádica! Tem sido um prazer acompanhar você ao longo dos anos, seja com frequência constante ou intermitente. Não gosto de despedidas, então vou deixar aqui meu "Até o próximo encontro."
ResponderExcluirQuerida Pandora...
ResponderExcluirUm personagem de um dos meus filmes favoritos disse: "Não existem despedidas na estrada".
E nós dois temos uma estrada de 11 anos de contato, ora frequente, ora esporádico...
É o suficiente para me confortar ao saber que nos reencontraremos sempre....
Até...
Você conquistou uma fã para o resto da vida, Sahge. Então, sou obrigada a recusar terminantemente essa despedida! :)
ResponderExcluirEspero que você volte logo.
Um beijo em seu coração!
Querida Helena,
ExcluirConheço-a de sei lá quantas vidas, o bastante para saber que ha mais do que gentileza nas suas palavras.
Você também está na estrada comigo, então, são só reticências, certo?
É uma pessoa inspiradora (e não são muitas as pessoas capazes de fazer um sagitariano mudar de ideia sobre a simpatia ou antipatia que sente por um signo, mas você conseguiu esse feito! Capricornianos afinal, podem ser criaturas encantadoras).
Isto posto, tenho de lhe dizer que eu certamente lhe devo uma sobrevida do meu blog. Cheguei até aqui, por inspiração provinda de você e do desejo de me assemelhar ao poder da sua escrita.
Até daqui a pouco.
Sempre vi seus comentários em outros blogs. Passei a frequentar o seu já faz uns três anos. As vezes quando passo pelos outros blogs e não vejo seus comentários lá fico: cadê o Sahge? Daí volto pra te ler aqui.
ResponderExcluirCaro Anônimo...
ExcluirQue prazer falar consigo, no limiar dos meus rabiscos!
Foi sempre você, afinal. Aí, por detras dessa tela, me lendo com esses olhos que nunca vi, podendo ser qualquer um.
Essa, penso, é a sua grande beleza...A possibilidade de ser qualquer um ou ninguém.
Seja voce quem for, saiba que a mim sempre honrou sua visita e leitura e alegra-me muito que volte para me ler.
Se eu conseguir voltar a escrever aqui ou em qualquer lugar que seja, espero que continue me considerando digno de sua atenção.
Não sei quem você é, mas o amo, meu amigo...
hey Sahge
ResponderExcluirPor favor, única coisa que te peço é: não exclua esse blog, não até eu terminar de ler.
Tem sido uma espécie de terapia para mim, sua escrita é uma brisa suave em uma manhã de outono. Voltar em 2011... Sabe, vivendo o hoje, 2019, tem sido tempos estranhos, então me perco em suas palavras e encontro algum conforto.
Cara Sra. Fish,
ExcluirNão se preocupe. Não tenciono excluir este blog. Meus rompantes, momentos tolos de febre emocional nos quais eu negava quem fui e o que vivi e o que senti, já passaram. Na verdade, arrependo-me de ter excluído muita coisa, porque, bem, a vida não é exatamente um roteiro escrito no qual nossa felicidade é uma constante determinada por Deus ou o Destino. Foram meus momentos e , bem, de toda forma, como eu disse, foi divertido!
Eu já vi blogs na net abandonados, e sempre me pergunto que destino levou aquelas almas cuja escrita me cativou...Teriam sido domados pelo quotidiano?
Espero que não.
E espero que você nunca termine de ler esse meu blog, pois, não obstante minhas frequentes despedidas, sei que voltarei ainda aqui por muito tempo ainda, para registrar minha estupefação diante do quão pouco eu sei sobre o que sei e o quanto eu não sei sobre o que não sei.
Só preciso que minha inquietação se torne maior do que minha preguiça, pois ando vivendo com a mesma "má vontade com que rasguei o ventre à minha mãe..."
Tem sido mesmo tempos estranhos..."Tempos difíceis para os sonhadores".
Reconheço que a minha escrita é uma...Fonte de conforto duvidosa, pois eu registro o meu caos e me esforço para confundir mais do que para explicar, o que me diz que você é uma pessoa extraordinária por conseguir encontrar o sentido por detrás de todo esse caos.
Eu me sinto honrado e mais feliz do que posso expressar com o fato de que você me lê.
Pois sou eu nessas linhas.
"Brisa Suave" faz referência a lembranças...Que eu guardo com grande carinho. Entesouro-as como preciosas para mim. O tipo de lembrança que nos aquece quando estamos velhos e sentados em algum canto fazendo uma balanço da vida.
Mas, se me permite, eu particularmente, prefiro uma brisa fresca em tarde quente de verão.
Obrigado por me ler.
Beijo na Alma.
:)
Isso é até um pouco estranho para mim, o dono dessas palavras existe, rs. quase beira ao surreal, eu também passeio por essas ruínas chamada blog, esses blogs anacrônicos, e fico me perguntando o que aconteceu com essas pessoas... será que de fato são reais?!
ExcluirEu ainda vou ficar um bom tempo aqui te lendo e quando terminar de ler, eu ainda vou reler alguns textos que gostei, e de tempos em tempos vou ver se o autor se desvencilhou de suas amarras...
Bem, se é duvidosa ou não, ainda assim traz conforto para mim, e você disse a palavra chave – caos – o meu caos conversa com o seu, talvez ele se sinta acalentado pelo o seu, e também talvez, eu me sinta menos sozinha, 'talvez eu sempre me sinta mais confortável no caos'... Parei de buscar explicações e respostas, o que vou fazer quando a resposta vier? Será que é o fim da linha para mim? ou, provavelmente virá novas questões e viverei nesse loop infinito de buscas por explicações. Enfim, divagações sem sentido ou muito rasas por agora.
Uma brisa fresca em uma tarde quente de verão é sempre bem-vinda, daquelas que vem e causa um arrepio gélido na espinha.
[fiquei com vontade de modificar um relógio, fazer com que o ponteiro gire ao contrário, e se caso algo voltar no tempo ou uma fenda abrir aqui, dou um jeito de te avisar]
Eu existo.
ExcluirMas existo nessas linhas e nos pensamentos que me enxameiam a cabeça, brigando, implorando ou exigindo vir a luz em letras ou voz.
Mas ainda ando teimando em ficar mudo. Tentando ver se consigo convencer a mim mesmo que se ficar quieto, consigo calar a "febre de sentir".
Mas ha uma ficção de mim sim, um Eu que não existe e que inventei para ficar em fila de supermercado, consertar chuveiros em fins de semana preguiçosos, desejar bom dia" a ouvidos surdos, esperar férias, viajar e fingir ficar encantado com paisagens lindas e monótonas, comer comidas insossas e mentir sobre o sabor, corrigir planilhas no trabalho, conversar coisas supérfluas com colegas de trabalho ou com amigos e familiares nos tabuleiros de xadrez sociais.
Esse não existe. Mas ele tem de ter a sua oportunidade de atuar no mundo e me permitir repousar um pouco do muito que sempre me ardeu. E como em todo repouso, ainda estou nos meus "só mais dez minutinhos".
Ha uma força criadora incrível no Caos, mas os que são fieis a essa força, têm de ser rebeldes por natureza (pois não pode haver padrão, pois aí estaria ordenado) e é justamente a rebeldia que nos faz as vezes ficar inertes e não atender o chamado.
https://sahgelk.blogspot.com/2015/05/
Nietzsche dizia que "depois que cansei de procurar Aprendi a encontrar". Uma boa resposta é sempre aquela que suscita um novo pensamento, uma nova maneira de pensar. Penso que encontrar uma resposta definitiva não seria o alvo a ser alcançado, mas as questões novas que seu pensamento parir, serão a trilha, as migalhas de pão que servirão de norte a aqueles que virão depois de você.
Eles te conhecerão pelo que você construiu e se reconhecerão em você como seus herdeiros, não de sangue, mas de alma. Talvez você já não esteja aqui. Talvez já esteja em casa, com os seus, com os nossos, comigo. Uma constelação de estrelas dançantes.
E os nosso nos seguirão...
(A ideia do relógio cujos ponteiros correm ao contrário ainda me seduz. Acho que escrevi algo novamente sobre esse tema e penso que ainda escreverei um dia. Se você tiver sucesso e
e o tempo retroceda, se puder falar ao meu Eu mais jovem, diga-lhe que peço perdão pela decepção que estou em vias de me tronar para ele, que ele é um tolo e que vai continuar um tolo por muito tempo ainda, mas que será menos tolo quanto antes reconhecer que o é)
Eu até me preocuparia com sua ausência, meu querido, se não soubesse que você ainda tem muito o que sangrar nesse seu teclado. e vai sangrar lindamente suas letras.Vai ser só começar a chover aqui em belo horizonte e você vai sentir o peso de não escrever e eu já tou brindando sua volta, mesmo que demore mais um pouco...
ExcluirEu te amo Sahge.
Volta logo meu demônio. kkk
Sahge27 de outubro de 2019 21:24
ResponderExcluirQuerida Helena...
Escolha interessantes de palavras. No momento, estou tendo hemorragias internas, mas ainda não estou nem anímico e nem anêmico o bastante para fazer nada a não ser esperar.
Esperar que a chuva que finalmente caiu por aqui faça mais estragos na minha letargia do que no telhado da minha casa.
E, se.me.permite a ousadia, se você escolhesse seus namorados com o mesmo esmero com que escolhe metaforas, evitaria muitos problemas na vida, moça.
Talvez ambos tenhamos sorte no jogo. ;)
Sahge, o que te move? De verdade
ResponderExcluirCara Senhora Fish...
ExcluirSinceramente?
Não saberia dizer.
...
Não nesse momento em que estou tão letárgico.
Talvez me mova simplesmente por uma necessidade de que algo me mova.
Não sei ao certo de onde me veio o pensamento de que a essência básica da vida é o movimento: Se o predador não se mover, morre de fome. Se a presa não se mover, mata a fome do predador e morre no processo.
Vida é movimento.
Algo se iniciou para mim naquele dia em que escorreguei do paraíso uterino, com medo, com raiva, ignorante (condição que não mudou passadas quatro décadas) e isso ainda está em movimento.
Eu diria que estou seguindo e sendo o fluxo de alguma coisa que me levará a resposta de o porquê de toda essa...Inquietação.
Mas naquele momento em que eu finalmente souber, quando no fim meu ultimo fôlego fizer um esforço inutil para encher os pulmões de ar, a ultima batida do meu coração infernal mover o veneno das minhas artérias, os olhos arregalados fitando o nada, a mão tentando agarrar o vazio e me vier súbita compreensão, receio que eu já não esteja mais em condições de contar qual é a resposta a sua intrigante pergunta.
Vou dizer: "Ahhh...Então é isso!"
E acabou meu movimento...
E sim, eu sei que minha descrição do meu fim foi muito teatral.
É a minha tendência sagitariana ao melodrama...
KKkkkkkkkkk
:)
(ora, ora, deixe disso, se escondendo atrás dos signos é, acho que li em algum lugar aqui, que Sahge de nada entende sobre signos, rs. é um ótimo melodrama, e não achei um melodrama pra ser sincera, rs)
ResponderExcluirah Sahge...
lendo sua resposta, talvez, a gente não saiba de verdade o que nos move. Não generalizo, acredito que um punhado de gente neste vasto mundo, nesta pequena galaxia, saiba o porquê de sua existência, sabe o que te move.
lembro que quando te fiz tal pergunta, havia uma sede pela resposta, um desespero começou a subir pela garganta, porque eu já não sabia o que me movia, bem... ainda não sei, mas naquele dia eu não servia na própria pele, e tudo estava tão dolorido. Agora se foi, essa ânsia pela resposta da qual acho, muitas vezes, difícil de se colocar em palavras, o sentido parece tão profundo, está tão talhado em todo nosso ser.
As coisas se aquietaram aqui dentro e bem, temos uma amiga em comum, ou seria uma parasita? Letargia corre em minhas veias, entorpecendo minha alma, de vez em quando ela me deixa, e quando me deixa, dá lugar a outras coisas.
Essa vida dormente que levo, cada dia que passa, o despertar se distancia da realidade e vai para o campo do sonho, e lá, tenho passado um bom tempo... mas esse meu mundo é tão frágil, sinto essas paredes ruírem, estão cada vez mais cheias de máculas.
Não achas triste só no final descobrir tal resposta? rs
Talvez o que está por trás do 'o que te move?', da minha pergunta, é, se a vida perde seu significado, seja lá o que ela signifique, como faz para te-lo de volta? Me parece uma tarefa árdua. o dissabor da vida, sua progressão falhando, o sistema entrando em pani e tornando uma tela cinzenta chiando. e aqui me despeço com as palavras do Jonas Mekas, que faço das minhas...
...Meu coração está envenenado, meu cérebro abandonado em farrapos de horror e tristeza. Eu Nunca te decepcionei, mundo, mas você se comportou de maneira vil comigo. Esta é a sensação de ir à lugar nenhum, de estar preso, da primeira estrofe de Dante, temeroso pela próxima etapa, o próximo passo.
Enquanto não me reencontrar e permanecer na superfície não tenho de ir muito longe, não tenho de tomar decisões terríveis e dolorosas, escolhas de onde e como ir. Isso porque, bem profundamente, há terríveis decisões a tomar, terríveis passos a dar. É aos 40 que morremos, quando isso não acontece aos 20. É aos 40 que traímos a nós mesmos, nossos corpos e nossas almas, seja de maneira superficial ou seja indo além, através das decisões mais bobas que retardam e lançam nossas almas por milhares de encarnações passadas.
Senhora Fish,
ResponderExcluirVocê talvez ficasse surpresa ao saber quantas vezes apelar para desculpas esotéricas me tem permitido sair de enrascadas mentais e morais.
È um recurso do qual poderei me valer ainda, desde que eu tenha o cuidado de manter fora das minhas relações próximas, os astrólogos.
(Por favor, me diga que você não é astróloga, ou vou emular uma avestruz e nunca mais ninguém terá notícias da cabeça enterrada do pobre Sahge)
Sim, eu não entendo de signos (apenas o suficiente para justificar injustas antipatias por outros signos e inventar desculpas para minhas incongruências), mas como quase ninguém entende também, percebi que as pessoas, regra geral
evitam questionar a autoridade daquilo que não entendem. Uma atitude tola, mas permite que assim vá me safando...
Ahahahah!
Creio que eu esteja estagiando para a senilidade, pois já não me lembro a fonte de todas as citações que faço (se você apreende muito profundamente certos pensamentos, eles se tornam tanto seus quanto da mente que primeiro os pensou), então, com a devida venia:
ResponderExcluir“Quando se perde a referência, o que fica tem de valer o esforço da existência”.
Parecemos perder todo o sentido da vida uma vez passado aquilo que chamamos de “juventude”. Não a juventude cronológica, mas a dos motivos. Perde-se a, não vivendo muito, mas compreendendo muito.
Você percebe o vão esforço de correr atras do vento, um dia, quando constatar a fragilidade em tudo o que te ensinaram sobre “bem e mal”, “amor”, “propósito” e outras coisas que sempre lhe foram caras e como esses mesmos que te ensinaram tão mal, estão apartados do próprio ensino.
Você nota o quão distante essas coisas estão do nível rasteiro que te ensinaram a pensá-las. E se sente velho, cansado, incapaz agora de alçar voos tão altos. E isso pode te acontecer aos 20 ou quarenta anos. Você envelheceu.
Ha uma maioria “feliz” que nunca chega a envelhecer desse modo.
Mas não os invejo.
“Como te parece envelhecer? Honestamente, como diabos lida com isso?”
“-Mantendo-me bebendo, fumando e dançando com os demônios e dizendo a mim mesmo que não dou a mínima pra isso!”
Palavras de John Constantine (um dos meus sábios fictícios favoritos.)
Mas como todo conselho do canalha inglês, eu não o recomendo, pois:
-Beber, alem de ser caro e dos estragos advindos da carraspana, dá ressaca física e moral.
-Fumar escurece os dentes e os motivos e é igualmente caro (alem de higienicamente questionável, embora seja um habito que tenha certo charme)
-Demônios são péssimos dançarinos: Pisam no seu pé de propósito e as mãos nojentas tendem a escorregar para onde não foram convidadas;
Ha pessoas que sabem bem quem são e o que são e essas pessoas não sentem as paredes do quarto as espremer em noites insones e o mundo encolher em dias de sonambulismo. Mas essas são as pessoas capazes de ficar em posição de lótus por emanas seguidas, flutuar, e emanar odor de lavanda quando suam.
Nunca vi uma dessas divindades de perto.
Ou de longe.
O que fiou? Temos de fazer com que isso valha ao menos nossa teimosia em existir.
Anos atrás, as palavras de Ortega y Gasset ( com as quais fecho meu comentário) me fizeram entender algo: Ter certeza é estar preso. E que “saber o caminho” é supervalorizado demais.
Sentir estranho, exilado de si mesmo ou de algum modo alheio ao sentido de tudo, é, saber-se humano:
“Porque a vida é um verdadeiro caos onde se está perdido. O homem massificado suspeita disso; mas tem pavor de se encontrar cara a cara com essa realidade terrível, e procura ocultá-la com uma cortina de fumaça, onde tudo está muito claro.
Não se importa que suas ‘ideias’ não sejam verdadeiras; usa-as como trincheiras para se defender da sua vida, como impulsos para fugir da realidade.
O homem de mente limpa é aquele que se liberta dessas ‘ideias’ fantasiosas e olha a vida de frente, e assume que nelas, tudo é problemático, e se sente perdido.
Como isso é a pura verdade – ou seja, que viver é se sentir perdido --, aquele que compreende isso já começou a se encontrar, já começou a descobrir a verdadeira realidade, já está em condições de pisar em terra firme.
Instintivamente, como fazem os náufragos, buscará algo a que se agarrar, e essa busca trágica, peremptória, absolutamente real, porque se trata de salvar-se, o fará ordenar o caos de sua vida.
Essas são as únicas ideias verdadeiras: as ideias dos náufragos.
O resto é retórica, postura, farsa íntima.
Aquele que não se sente verdadeiramente perdido, perde-se inexoravelmente; quer dizer, jamais se encontra, nunca encara a própria realidade.”
Ressalva na 28ª linha: leia-se "O que ficou? Temos de fazer com que isso valha ao menos nossa teimosia em existir".
ExcluirEu perdi o saudável hábito de digitar antes no word, que corrigia minha grafia.
Mas hábitos bons são tão fáceis de perder quanto hábitos ruins tem de se ganhar...
[Fique tranquilo, eu não sou uma astróloga, rs. Estou longe de ser e entender esse mundo. Eu acho que em algum momento da minha vida, eu acreditei em signos.
ExcluirLembro que na minha adolescência, quando ia visitar minhas tias, pegava suas revistas e dava uma espiada na parte do horóscopo; na internet também olhava sites sobre isso, mas não com frequência. Talvez em busca de alguma falsa esperança ou alguma justificativa para os problemas. Percebi que havia um padrão nos signos, o que ele dizia para o seu signo no mês de abril, ele dia a mesma coisa para outro signo no mês de setembro, rs. Então deixei de me iludir e percebi que os astros não sabem de nada. Talvez apelar para desculpas esotéricas, não seja uma má ideia.]
Eu fiquei aqui, meditando no que me disse, Sahge. Eu te agradeço por tais palavras, elas vieram na hora certa.
Nem sempre é fácil encarar que estamos perdidos, mas há um consolo, e a partir desse ponto, talvez alguma ponte possa ser construída.
Senhora Fish...Eu também lhe agradeço muito, ...
ExcluirPelo seu estímulo ao movimento que faz me lembrar da minha vocação de forjar sentido (ou ao menos tentar) através da associação livre dos meus pensamentos. Por me fazer pensar.
Muito do que tenho pensado nas ultimas semanas me foi inspirado por sua presença aqui e eu me sinto realmente muito honrado que me leia.
Aos poucos, posso revalidar minhas motivações para escrever.
Embora ainda esteja subjugado por nossa "amiga em comum", já sinto cãibras por ter ficado tempo demais e uma posição.
Por favor, volte sempre aqui...
Luiz!
ResponderExcluirEterna ficção do mundo dos blogs anacrônicos e solitários.
Venho aqui quase com resistência, porque me recuso a um contato bilateral com um símbolo, sendo isto, você tem sido um símbolo ao longo dos anos de visitas retribuídas por este mundo virtual. E eu, nostálgica e apegada, me recuso a reconhecer que existe uma pessoa, tão como eu, que às vezes cansa de si mesmo e sai um pouco - mas volta.
Mas venho e expresso este desejo: Volte! Acompanhar suas palavras, às vezes semanalmente, às vezes uma vez ao ano fazem parte do universo escondido onde eu mesma exponho as minhas, e talvez o avançar dos anos que também sinto me torne sentimental, não querendo perder nenhum pedaço de mundo.
Em termos simples: Sua escrita é honesta, irônica e me faz sorrir e compreender. Espero que retorne em breve.
Um grande abraço,
Olho de gato.
Kristal...
ExcluirQuando eu era criança (uma criança esquisita e fascinada) ficava em tardes azuis deitado no telhado de casa olhando para o céu.
Se olhasse tempo o bastante, sem piscar, o mundo abaixo subitamente desaparecia e o céu e a enormidade dele pareciam desabar sobre mim e eu me sentia em queda para cima. Eu descia alarmado, pois a sensação de queda não me assustava tanto quanto a certeza de que uma vez caído no céu, eu me tornaria tão infinito e tão profundo quanto ele. Depois de um tempo, o fascínio suplantava o medo reverente e eu subia novamente.
Após crescido (ainda esquisito e fascinado), este foi o motivo que fez com que eu também evitasse contatos bilaterais com aqueles que bem sei, me levariam a ser tão profundo e infinito quanto eles são e tanto quanto eu posso ser.
E eu precisaria depois disso retornar ao quotidiano de prazos, horários e sinais de transito fechados. O mundo ficaria pequeno demais pra mim, que já me sinto espremido dentro de mim mesmo;
Sempre que eu circulo por suas linhas, tenho esse sentimento de que ao fazê-lo, sou menos o personagem social que preciso ser, e mais a pessoa que eu devo ser.
Ao longo dos anos tenho lido você, (a despeito do sentimento de estar diante de algo enorme e paradoxalmente frágil e que me falta a necessária sutileza para compreender o que está diante de mim, saltando nas suas linhas).
Eu a leio porque me é muito necessário fazê-lo (tanto quanto me é necessário escrever). Por isso fico apreensivo quando o gato pisca.
Obrigado por vir aqui.
Espero que meu necessário Shabat esteja no fim.
Um post "scriptum" tardio:
ExcluirAinda sinto uma alegria insana e desesperada quando recito "That appealing self".
Maravilhoso!