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terça-feira, 31 de outubro de 2017

Uma chuva que não vem...


Dir-se-ia ter eu seiva nas veias, pois outubro agoniza e eu anseio o desabar do céu em chuva, para me tirar desse estupor e me lançar em outro...
Uma chuva que não vem...

Onde foram o negro céu, a tempestade majestosa e o uivo furioso do vento de outubro?
Algo floresce mais do que plantas, nesses dias em que costumo desabar pra dentro de mim enquanto olho pela janela o mundo inteiro se recolher fugindo da chuva.

Uma chuva que não vem...

O sol impera absoluto no céu e impossibilitado de fazer meus voos labirínticos pra dentro, olho pra fora, pro leste, pra brisa fresca dessa tarde quente, soprando, balançando a copa das árvores com a suavidade de um balançar de cabelos e penso no que eu não queria pensar.

Penso no tempo e no que ele levou e trouxe...
Em tanta coisa que foi e não foi dita e não pensada e não vivida e nessas encruzilhadas todas onde é certo, assombram os espectros das direções que não tomei.
Faço balancetes silenciosos e uma sensação de frio, no calor dessa tarde, percorre minha espinha e eu anseio pela chuva...

Uma chuva que não vem...

Mas me vêm essa inquietação teimosa, fruto de lembranças a que o tempo já deveria ter esmaecido, e orbita sobre minha cabeça em trajetória elíptica .

Algures, em ermo que só deus sabe, alguém olha pro tempo e anseia também e eu penso se é fatal essa sina de estar sempre se sentindo alheio.

E não obstante a carência de fé nos gestos e nos motivos, escrevo como em um ritual e deixo rastros, migalhas de pão a indicar o caminho de casa...

Talvez na esperança de que mesmo na chuva ou na falta dela, não se percam nem o caminho e nem aqueles que estão destinados a percorrê-lo...


4 comentários:

  1. ah se quiser eu mando a chuva que ta caindo aqui pra sua cidade. kkkkkkk
    Tá um dilúvio aqui onde eu moro, tudo encharcado, barro pelas ruas
    Interessante esse post parece quase negar o que vc disse no ultimo!
    As direçoes que vc não tomou, tomou em outro universo, né?
    Então para de se preocupar com o que não foi e vai aproveitar o sol pq aqui a gente ta virando peixe de tanta agua!kkkkkk
    bjs

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  2. Cara Helena,
    BH e eu necessitamos muito de chuva e de raison d'être...
    Como parece que você detém uma considerável quota de ambos os recursos, gentileza remeter por sedex ou outro meio igualmente célere de envio.
    Eu arcarei com as despesas de frete e semelhantes...

    E, menina, é claro que esse post é uma semi-negação do anterior!
    Que bom que percebeu.
    Agora está, talvez pronta pra entender outro conceito de liberdade: O de contradizer as próprias discordâncias...
    ^^
    Fica bem...

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  3. Talvez, esse seja o nosso grande erro: contar com o duvidoso, esperar por algo que não virá tão cedo. Mas teimamos em conservar a esperança. Um “quem sabe”, muitas vezes, já é satisfatório.

    Beijos!
    Blog: *** Caos ***

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  4. Olá Helena Rodrigues,
    ("coincidência é o córtex do universo" ^^)
    O "Quem sabe" é daquelas coisas que fascinam, porta de entrada (e de saída) para toda as possibilidades e não possibilidades que nossa imaginação permite.

    Sim, é satisfatório. É mágico!

    Aqui o céu enegrece, ameaça, o tempo esfria, o vento sopra e eu espero.
    Mas nada de chuva ainda.
    Alguém (que infelizmente se foi) disse uma vez que "esperança é um urubu pintado de verde".
    Um pensamento que sempre considerei tragicômico e dolorosamente verdadeiro.
    Gostaria de poder dizer que é meu único grande erro, mas a minha coleção de erros é vasta.
    ^^
    Seja bem vinda!
    PS: Ainda estou digerindo suas palavras, sobre proteção e sobre a fragilidade das barreiras que construímos.

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