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quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Sobre vitaminas que não tomo e noites que não durmo...

Me afogo...
E, no entanto, não ouso descansar os braços enquanto nado nesse abismo de água repleto de monstros que sussurram meu nome na escuridão.
Ainda sou o embaixador de mim mesmo, mas não faço proclamas porque ainda não acredito no meu produto. Uma buzina soa, alguém dobra os joelhos e grita aleluias e eu olho irritado o inicio do apocalipse, porque o mundo vai acabar ainda não acabei de ler um livro que ganhei de aniversário..

Um sonho mau... Apenas isso.
E então fico aqui,inerte por um tempo...
Eu me espreguiço de tédio nesse escuro porque terror é coisa que compreendo tão bem quanto as letras miúdas em frascos de vitaminas que meus olhos não conseguem mais ler sem óculos e meu esquecimento não dá conta de engulir.
E a droga é que nem tenho óculos, mas tenho uma memória elefantina...

Talvez eu devesse ter óculos...
Talvez eu devesse ter anseios, desejos de felicidade e amor, mas sempre que penso nisso, me sinto tolo, como alguém que teima em tirar água com que se afogar em um poço que já secou há muito tempo...
Até sinto um pouco de medo, mas não o compreendo...
Em um mundo de sensações, fico imaginando se alguém compreende ou mesmo se alguém se importa em compreender algo, além de sentir.
E é através dessa vida vítrea que meio trôpego, me levanto no escuro, me desvio de um ou outro fantasma lamentoso e praguejo contra o pé da mesa no qual dou topadas no escuro.
Queria não ter bexiga, vizinhos barulhentos e sonhos perturbadores e talvez não precisasse me levantar tantas vezes durante a noite.

Oh, deus do céu! De repente tenho 43 anos e nem sinal do rosto grave, absolutamente masculino, olhar duro e vida segura que em minha infância sonhava que estaria me olhando de volta neste espelho.

Um corpo lânguido, uma alma febril e um sentimento de virar a esquina da vida a qualquer tempo. Alguma coisa deu errada na minha, mas faço balancetes diários e ainda assim não fecho a conta, mas fecho o armário do banheiro e la está a cara de garoto cansado me olhando...

Uma semana sem fazer a barba e nem sinal de pelos espinhentos que me completem o ar de decadência. Preciso checar o cartão de crédito, o cheque especial, as notas da escola da minha filha e meus níveis de testosterona.
Deus! Que hora ruim pra ser ateu! Eu poderia fazer como fazem seus “filhos” e culpa-lo por tudo, dizer que é um dos seus “planos misteriosos” e me consolar de alguma forma absurda e esotérica. 
Ao invés disso fico aqui, me culpando por tudo,  até pela vitória de Trump e a queda de todos os aviões  e projetos de vida do mundo...

E porque diabos estou escovando os dentes as três da madrugada?!
Cabelos brancos desde os dezesseis anos, então não posso me vangloriar dessa névoa no topete como uma condecoração pelo tempo de vida e eu nunca fui vaidoso, mas que merda! Se não posso ter um rosto bonito, ao menos não poderia tê-lo um tantinho mais viril?
Olhos tristes e cansados, cansados também de se verem a cada manhã e agora a cada madrugada nesse espelho salpicado de creme dental.

É insano!
Sempre tem alguma porcaria de cachorro latindo, rádio ligado em algum lugar, gente gritando em um bar próximo e eu que deveria estar dormindo, irritado como um autêntico velhinho mal humorado que fica reclamando do barulho.
E pra falar a verdade, fico mais incomodado é com o silêncio nesse lugar, parecido ao silêncio da selva, como se algo inacreditável e violento estivesse pra acontecer.

Reminiscências de uma noite insone e insana...
Sinto vontade de fumar e novamente me lembro de que nunca fumei e que detesto o cheiro de cigarros e que detesto estar detestando tudo o tempo todo, mas que se dane isso!
Cada qual com seu talento, não é?
O meu é estar mal e detestar, eu acho.
A única coisa que parece que sou bom.

Tenho uma inclinação patológica pra estar  mal..
Tenho um buraco onde deveria haver um estômago. 
Uma fome de tudo que paralisa meus sentidos.
Tenho cãibras nos braços e nos motivos,
Tenho preguiça até de ter preguiça e me movo de volta pra cama fria em câmara lenta enquanto sobem as letras dos créditos finais de minha vida.











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