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quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Dia tanto, do mês tal, de dois mil e sei lá...



Foi só começar a chover e eu fiquei feliz como um masoquista de coração partido. 

Pensei que a água lavando vidraças e pecados de BH finalmente me tiraria desse hiato de escrita e eu poderia me inspirar na atmosfera intimista que a chuva proporciona ao nos prender em casa.

Posso bem me lembrar de umas duas ou mais postagens de que me orgulhei de ter escrito e que me vieram em dias ou noites de chuva, quando o mundo parece aquietar e se recolher um pouco.

Mas qual o quê!

Duas horas olhando a janela e só me veio à mente o vazio suave que me tem comido pensamentos, porém aflorado lembranças que bem poderia apagar junto aos pensamentos que me comem. Eu fiquei hipnotizado pela queda da água, mas afora a beleza do vazio contemplativo, não me ocorreram linhas que partilhar.
Um desânimo que até do desânimo me desanima me abraçou os ombros e só então desisti de tentar arrancar da chuva o que o cansaço de existir aparentemente calou em mim.

Uma musa...
Tem uma musa que tenho procurado evitar.

A única que não me abandona nunca e a única que me inspira longas horas e muitos textos que deixo apenas nos repartimentos mofados da minha consciência porque a ninguém interessa de fato.

A Morte.

Contrário a maioria da minha geração, nunca fui um caçador de sensações, mas de conhecimento, ainda que tente obter esse conhecimento mesmo através de sensações.
Sensações são inúteis...

Mas que é que sei de sensações?
Que é que eu sei de qualquer coisa?
Pouco, eu acho, de pouco.
E quanto mais eu sei, mais me sinto tolo e mais quero saber, porque o acúmulo de conhecimento me torna ainda mais consciente da minha estupidez...

A Morte é, talvez, a única coisa que realmente sacie a necessidade de conhecimento. Talvez seja uma musa um tanto lúgubre, mas isso é o que pensaria a gente que se apavora com a ideia da própria finitude (como se se pudesse honestamente ignorar isso por um momento que seja), mas andei pensando que afinal, tudo o que a gente tanto se esfola para buscar e alcançar está em vias de passar, ainda que o consigamos.

Nenhum alimento sacia de vez a necessidade de comer, nenhum beijo elimina a vontade de beijar e nenhuma paixão cala de vez a necessidade idiota do nosso coração de se apaixonar.

Vivemos e morremos com fome de tudo e de nada e nada sacia a fome, mesmo que tenhamos tudo.

E eu quero saber tudo.
Tudo o que há pra saber. 
Mesmo as coisas mais dolorosas, me angustia até o limite do suportável não saber de algo.

Mas suponhamos que eu soubesse que no dia tanto do mês tal de dois-mil-e-sei-lá eu fosse morrer. Esse conhecimento suplantaria toda a minha necessidade de conhecimento e eu teria então um pouco de paz para olhar pra chuva sem ansiar que ela me inspirasse nada que não fosse o vazio lindo que me absorveu por horas. Se eu soubesse quando vou morrer, não iria por aí, como todo mundo diz “vivendo a vida ao máximo”, porque quando alguém diz isso, está na verdade, sendo fiel à minha geração, fazendo apologia a um modo de vida hedonista, como se o prazer fosse tudo o que houvesse para torna a vida o máximo.

Sei lá...

Entre o último parágrafo e esse eu fiquei absorto por mais uma hora olhando a chuva e pensando na minha finitude. Nem sei como terminar esse texto e nem sei se devo ou não o postar.

Atualmente me sinto alienígena até de mim mesmo e tão desconectado de tudo que suspeito que só estou ancorado neste mundo por causa das roupas e nu, cairia pra cima e pro vazio.

Fiquei em um beco sem saída com esse texto idiota, inspirado por uma sensação de vazio idiota em um homem idiota.
Então vou terminar compartilhando uma das minhas minha citações favoritas, e que me fará suspirar por mais umas horas a olhar pro vazio, pra chuva:

“Gosto de desenhar os suspiros dos átomos. E colocar acentos agudos em seus sonhos”.




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