Se pela metade está o copo meio-cheio
ou meio-vazio, é questão que ha que se legar ao debate entre otimistas e
pessimistas.
Curiosamente a parte que está sem nada (ou com nada, dependendo
de que lado da realidade você olhe) é sempre o foco destes entreveros verbais entre
gente que tem certeza de que, ou o mundo é maravilhoso e uma festa ou o mundo é
horrível e campo de batalha.
E
"eu, que não tenho certeza alguma, sou mais certo ou menos certo?"
A irrelevância está sempre na parte que está preenchida, porque este que é meio não pode ser tudo. O problema do copo é a parte que está vazia e o consequente desejo do copo de estar cheio e transbordar.
É como dissesse a si mesmo:
"O
que eu quero não é o que tenho, embora haveria de o querer se isto que tenho
quisesse que eu o quisesse. Seria o suficiente se o quisesse ser. Mas
como me falta o que quero e o que tenho não me preenche, estou cheio
de insuficiências, repleto de vazio e transbordante do desejo de estar
cheio."
...
Uma questão que me surgiu nos
últimos minutos, mas fermentou-me no simulacro de cérebro durante muito tempo,
a parte do que eu estava consciente. Cresceu como uma droga de câncer, até que
pela violência de seu sintoma, não o pude mais ignorar. Mais ou menos
me atropelou em meio a uma conversa em que fiquei atordoado pela
milionésima vez em como o mundo é uma seara labiríntica. E fico tecendo uma
teia intricada de angustias e dúvidas com a tenacidade de uma aranha desejando
abrigar-se do vento:
Porque é
que tenho sempre a percepção das coisas quando estas (senão todas as coisas do
mundo) existem apenas ao e para o alcance da sensação? Por que diabos tento
encontrar sentido naquilo que não tem sentido além de que deve ser apenas
sentido e não simbolizado?
Que tem coisa errada com minha
inteligência é fato, contra o qual não tenho como argumentar, mas será que
tenho alguma alteração nos órgãos sensoriais e essa anomalia salta daí
para a minha capacidade de compreensão das coisas?
Posso muito bem andar de cabeça
baixa em meio a um tiroteio e não perceber o zunir de balas a minha volta, do
mesmo modo que tenho insensibilidade para o que, em tese, me deveria emocionar.
É possível que se trate de um tipo
de cegueira completamente novo e nesse caso, minha anomalia consiste em ter
olhos que enxergam demais para dentro e no processo, ficam perdidos em brumas
quando olho para fora.