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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Pensamento de fim de noite



Enquanto um pensa que a grama do vizinho é mais verde que a sua, o vizinho suspira olhando  para aquela mesma grama infernal  que é obrigado todos os dias a regar, aparar, pôr fertilizante e sonha em acabar com aquela agonia e cimentar tudo.
Conclusão: Duas tragédias na vida de um homem: uma é não conseguir o que quer, a outra é conseguir!

Sobre Fantasmas - By Sahge


As vezes você luta contra uma idéia por dias seguidos e nunca é um combate leal, porque embora você esteja ali de espada mental em riste, a idéia se esgueira pelos cantos da sua consciência. Como um fantasma furtivo que você pode ver com o canto do olho, mas que some cada vez que você nota que ele está lá. Isso é por demais desgastante! Cansa lutar contra algo que não se revela, mas que impõe a sua presença, não aos cinco ou seis sentidos do organismo, mas aqueles sentidos meta-orgânicos, que muitos chamam de clarividência. Eu prefiro chamar isso de “Intuição Relutante”.

Outras vezes, em luta contra sua razão e em rivalidade com esta primeira idéia, uma outra, esta consciente,sussurra  coisas frágeis e você ciente de que está alimentando fantasias imaturas, elabora longos diálogos consigo mesmo. Um monólogo  (definição mais apropriada)  infrutífero. Diante do espelho esfumaçado, olhos amarelados, cansados e um tanto tristonhos te miram com enfado. “Não seja idiota!”, sua consciência grita.”Não seja estúpido!”

A idéia persiste alienando sua razão, conspirando junto ao universo, ao destino para te lançar novamente numa aventura emocional que bem pode ser um novo e gracioso pesadelo. E você o que faz? Assiste inerte, trancafiado dentro de si mesmo, sendo arrastado por um coração impulsivo, a um enredo que você conhece bem, como aqueles filmes batidos de sessão da tarde. Apesar de conhecer todas as cenas e o final, não consegue deixar de assistir e se deixa ficar em frente a TV como um autômato, balbuciando as falas até que os créditos subam.
Às vezes a vida parece difícil, mais por uma inadequação nossa para viver do que pela complexidade dos momentos de amargura quando tudo parece encolher. Saindo para fora, por cima do céu da sua cidade, do céu vítreo de janeiro, o ar limpo depois de muitos dias de chuva, ardem estrelas na gloriosa cidade de Deus.
 Ele tem um belo jardim, sem dúvida e você fica ali se perguntando quando foi que estas estrelas deixaram de ser  a maravilha grandiosa  com que sonhou a sua infância.  Me disseram uma vez que o que estamos vendo na verdade, em sua maioria, são as imagens de estrelas que morreram a muitos milhares de anos e cuja luz só agora chega na terra denunciando a sua existência passada. Se isso é verdade ou não, ignoro, como ignoro quase tudo em astronomia. Sou (ou pelo menos, fui um dia) um apreciador de estrelas, não um estudioso delas.  Mas se isso for verdade, então você esteve lá fora assistindo a um balé de fantasmas no céu. Tenho de lembrar-me de nunca conversar certas coisas com acadêmicos de ciências exatas...Eles tiram todo o charme de certas coisas...
 Foi lá fora tentando esquecer um cemitério que a dias tem ocupado seus pensamentos e se dá conta de que esteve olhando para outro...Já levamos um cemitério de muitas coisas na mente,  na memória, coisas que saem a noite em formas de sonhos e agora vem essa idéia de que também teríamos um sobre a nossa cabeça, iluminando a noite.
Cemitérios reais (ainda acho absurdo enterrar seres humanos como se fossem plantas) são sempre tristes e feios.  Isso é péssimo, porque nem tudo o que é triste é feio, mas no caso dos cemitérios literais, são sempre uma lembrança de morte ou da efemeridade da vida.
Outros tipos de cemitérios são como casas abandonadas, lugares da mente, ou de outros igualmente virtuais,  onde você encontra apenas vestígios do que andou se movendo por lá. Ecos murmurando pelos cantos. São uma lembrança da vida e da intensidade dela e de como ela se perde fácil. É como encontrar um livro antigo, de paginas amareladas, onde alguém na ociosidade de um momento fez anotações e deixou uma impressão de sua vida.  Ou talvez um diário antigo, de alguém que já não existe. Você encontra, você lê, conhece aquela pessoa, partilha as suas dores e alegrias, sente a intensidade da sua alma te cortar como uma faca e ela já se foi. Ela não está mais lá para que você a faça saber  o quão importante ela se tornou para você...O quanto você se importa...Então só te sobra essa sensação estranha de estar a um mundo de distância de tudo aquilo que lhe é caro ou que poderia dar a sua vida um significado maior do que correr atrás do vento.
E acima da sua cabeça bem como dentro dela, ardem milhares de fantasmas que mesmo não estando realmente lá conseguem te emocionar como pouco podem coisas  que são levianamente chamadas de viventes ou reais. 

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Insone



Já passam da meia noite (ou passa da meia-noite. Estou irritado demais para me ater a detalhes ortográficos) e eu já devia estar dormindo. É uma péssima hora e é péssimo o meu estado de espírito para postar qualquer coisa que preste e eu que já coleciono uma tonelada e meia de escritos que tenho considerado lixo indigno de ser postado, decido vir aqui dividir trivialidades...A elas:

A primeira é que tudo o que aprendi sobre Física no ensino médio pode estar errado, porque nessa terça-feira 11/01/2011, metrô de BH às 07:30 na estação São Gabriel comprovei sem sombra de dúvidas que sim, dois Corpos podem ocupar o mesmo lugar no espaço, ao mesmo tempo. Mon dieu!! Eu sabia que aquela matéria seria irrelevante na minha vida prática, mas não esperava verem confirmadas as minhas certezas! Odeio estar certo!!

A segunda, e mais importante: Cães não têm diafrágma e nem pulmões, porque a cachorra do meu vizinho está latindo como uma metralhadora, sem tomar fôlego (juro!!) desde a meia noite de segunda! Resultado: tive uma noite DO CÂO, sem pregar o olho, resolvi pegar o metrô em vez de ônibus, tive um dia infernal (falta de sono...de sonho, me deixa de mau humor e acabo azedando todo o resto) e como esse bicho amaldiçoado parece ter uma munição infinita de latidos a gastar, quer me parecer que outra noite adorável me espera. Não é merveilleux?

Tentei contar carneirinhos (eu estava desesperado! Dêem um desconto!) mas tudo o que minha imaginação conseguiu criar foi um desfile de cachorros voando zombeteiros sobre a minha cabeça e eu desejando abatê-los a tiros de metralhadora (com silenciador, porque diferente do imbécile do meu vizinho, prezo pelo sossego noturno dos outros), um devaneio que causaria choque nos militantes do PETA ou da Associação Protetora dos Animais. Será que não existe uma só ONG dedicada a preservação da saudável insanidade dos pobres arlequins?

Enquanto o sono não vem, tento esquecer os meus desejos canicidas (pensando bem, sou injusto com essa sirene-vestida-de-cão, porque se está latindo como uma louca a vinte e quatro horas, é porque o idiota do dono não está cuidando dieito dela.Pode até estar latindo por fome, mas nesse caso, devem fazer uns mil anos que esse bicho miserável não come!! E que fôlego teria um cão esfaimado, para latir sem parar um dia e uma noite!?!?!?!?!).

Me concentro em tentar me lembrar (pensamento que tem me deixado obscecado nos ultimos tempos) se o verso abaixo é ou não da autoria de Sheakespeare e em que obra ele o escreveu. Se alguem aí souber, s'il vous plaît, avise-me...

Bon Jour

"Uma alma destroçada, ferida pela adversidade, a ela pedimos que serene, quando a ouvimos chorar; mas se estivéssemos sobrecarregados  com o mesmo peso de sofrimento, tanto ou mais haveríamos de queixar-nos."

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Delírico - By Sahge


Desperto.
Emoldura o teu rosto pálido
Lua clara láctea, enamorada...
Contrasta com o cinza pétreo, a selva de concreto,
A chama rubra dos teus cabelos, ondula...
No vermelho enxameado mil devaneios lepidópteros
Em peixinhos e larvas esvoaçam como sonhos...
Sei agora para onde todos os meus convergiam.

Você contou algumas histórias e elas se encravaram nas paredes
Ficaram marcadas como musgo antigo, como pichação nova.
Deram testemunho da fecundidade da tua alma poética, insana.

Teria se pintado com tantas cores, passarinho perdido
Que não mais se reconhecendo perdeu-se de si?

Caminha na vida enquanto eu por vezes me arrasto.
Às vezes salto, às vezes corro, mas estou sempre um passo atrás
E meus dedos como nunca e sempre agarram o vazio
Onde há apenas um minuto sua forma linda preenchia o ar.

Devia chorar, mas não me parece importante e nem apropriado...
Quando um poeta chora, algum sonho morre e eu já matei sonhos em demasia esta semana.
Devo alegrar-me, pois este lugar ainda guarda o teu cheiro e teu calor.
As cinzas do teu cigarro ainda ardem no cinzeiro e você saiu há um século
Há um minuto atrás.
Se eu saísse na rua é possível que te visse alçar vôo numa esquina qualquer
E voando para longe, eu teria de chorar novamente, mas quero que meus sonhos vivam um pouco mais.

Pássaro pintado com cores do mundo...
Talvez um emprego decente, uma vida confortável, filhos...
Talvez um tailleur charmoso a esconder as tatuagens e dores,
Talvez a gaiola que tanto temia...
Tremia.
Espero que não.
Espero que em vôos mais altos em asas novas,
Não se esqueças das cores antigas porque ainda luzem e atraem como um farol,
Como a chama da vela atrai as moscas.
É bom te rever sem nunca ter te conhecido, Delírico.

Um beijo na Rua da Bahia



Belo horizonte é um mundo a cada esquina. Talvez seja a ausência de mar e o fato de a cidade estar cercada por montanhas e serras, que ao mesmo tempo em que limita a percepção do “lá fora” e deixa a cidade com esse ar intimista, também a torna um universo em si. Amplo e repleto de possibilidades,  BH é o mundo.
 “Não tem mar, mas tem bar”, dizem os boêmios e os bairristas.  Não sou nem um nem outro, mas compartilho com ambos o amor por esse meu lar que a cada curva descortina o inusitado.
Subia a Rua da Bahia numa tarde ociosa  de quarta-feira. Não me lembro para onde ia. Não me parece, diante do ocaso e do ocorrido, importante lembrar. O movimento da multidão, manada apressada, me desorientou por um momento e me vi diante de uma garota, saída de sei lá que sonho perdido eu tenha deixado morrer no meu travesseiro. Veio andando devagar em minha direção e se aproximando, sem cerimônia ou permissão alguma me beijou.

Estranho? Sim...Quem distribui beijos a estranhos numa esquina perdida?
O inusitado sempre nos deixa inertes e numa cidade grande, ainda que sua casa, onde se sente em segurança, há que se esperar todo dia que algo possa nos ocorrer, desde um assalto a um desastre qualquer. Em nossos dias, o trágico espera em cada beco escuro, nas cidades e nos corredores da mente. Esperamos tudo, mas nunca um beijo dado por alma desconhecida. Não uma caricia no meio da multidão.
Lá veio a garota, encaixando-se ao meu corpo com uma naturalidade que haveria eu de pensar, que já estivemos ambos em muitos outros encontros, em muitos outros beijos ou que nossos corpos hajam sidos moldados um para o outro. Não sabia onde por as mãos, posto que eu era um espectador em Acto alheio, embora fosse o meu corpo e lábios o palco daquela cena. Deixei-as ficar onde estavam; no ar como a minha alma beijada.Teria me confundido com alguém? Acontece no mar de bits e bytes da internet, mas cá na agudes do mundo real sem sutilezas, dificilmente...

Beijou-me com ternura, um beijo suave dado por lábios suaves e, no entanto, caloroso como o corpo que ao meu tocava. Não retribuí. Seria um gesto estranho retribuir um beijo que possivelmente não era a mim endereçado, mas me deixei beijar, porque não havia razão alguma, lógica ou moral para rejeitar um gesto de carinho. De olhos abertos observei os dela fechados e percorri as linhas harmônicas do seu rosto onde uma maquilagem meio borrada dava-lhe a impressão de ser uma obra de arte bem acabada. Talvez me iludisse pelo fato de a estar olhando tão de perto, mas ela pareceu-me uma abstração. Abstrata e linda como um beijo no asfalto dado em um estranho numa tarde estranha.

Pensei em Nelson Rodrigues.
Foi um bom beijo. Em geral, todos os beijos são bons.
Terminado o seu gesto, afastou-se a mocinha deslizando-se do meu corpo tão subitamente quanto veio a ele. Senti frio imediatamente. Meu corpo já havia se acostumado ao calor do dela, num espaço de tempo de uma brevidade que beirava o infinito.  Sorriu-me e a esse gesto pude sem embargos da minha lógica agir em retribuição. Sorri de volta e antes que ela se perdesse na multidão de anônimos conhecidos da minha maravilhosa BH de esquinas inusitadas, ainda tive presença de espírito para perguntar algo. O senso me diz que devia perguntar o seu nome, mas ocorreu-me perguntar apenas:

-Por quê?
Ainda sorrindo, ela pareceu pensar por alguns segundos. Ergueu os ombros e virando-se disse:

-Porque eu quis!
E depois de ela ter desaparecido da minha vista e se fixado em minhas lembranças, fiquei ruminando um pensamento que me aflorou quase que como uma revelação;

 “Eu quis!”
.
Simples assim e desde então, passei a escusar-me ou a propor-me qualquer coisa baseado nessa filosofia, a saber, o meu Querer e o meu Não-Querer são razões suficientes para que eu faça ou deixe de fazer alguma coisa, com a devida ressalva de que tenho de arcar com o advindo dessa filosofia.
Restos de um pensar que me foi revelado num encontro breve, numa esquina do mundo íntimo da minha BH.



quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Primeiro Post? - By Sahge


Ano novo ou melhor, resoluções de Ano Novo...

Já caiu no lugar-comum, a certeza de que muito provavelmente nada daquilo que nós prometemos para o próximo ano, efetivamente cumprimos e isso não diz nada sobre nosso caráter ou força de vontade. É que o tempo e as circunstâncias da vida impedem que cumpramos as promessas feitas, aos outros e a nós mesmos. Também é lugar-comum dizer que em virtude da impossibilidade nossa de cumprir as promessas feitas, prometemos a guisa de desculpa para fugir aos compromissos "não prometer nada".

Promessas...Feitas a si mesmo se tornam projetos de vida e no ano passado ao inaugurar um Blog e meio entorpecido por um otimismo de fachada, elaborei ao longo de meses umas resoluções, uns projetos de vida a que denominei "Desejos". Acabei me esquecendo de que não existe coisa mais inconstante e mais volátil do que "Desejo".

Enfim, dentre outras coisas, estabeleci como meta, como meus desejos; "Não me quebrar mais, aprender a dizer muito falando pouco, me emocionar com todas as manifestações artísticas, voar..."

Eram para ser doze desejos, elaborados ao longo de doze meses e agora deveria estar celebrando a realização de ambos. Ficaram, é claro, apenas na planta e nem cheguei a elaborar todos os doze.

E como sei que não cumprirei, seja lá por que motivo for, aquilo que estabeleço como meta emocional, meu único desejo agora poderia ser expresso como: "Desejo não desejar mais nada", mas me conheço bem o bastante para saber que nem isso eu conseguiria cumprir.

Não desejar, não sentir...Tornei-me razoável demais ( e estou para decidir se isso é ou não uma vantagem) para ver nisso um projeto  exeqüível. 


Ainda assim, uma parte quase perdida de mim persiste em acalentar esse meu primeiro e natimorto desejo, para 2011 e para o resto da minha longa e tediosa ou breve e fulgurante vida.

E enquanto reluto em meditar nesse meu desejo de alcançar o niilismo emocional, compartilho, a quem interessar possa, essa minha inquietação.

Qualidade e honestidade na escreita são algo pelo que me empenho e embora eu fique devendo bastante na primeira, me esforço e me esmero na segunda. Posso com orgulho me afirmar um autor honesto, razão pela qual o que escrevo é por vezes tão confuso, contraditório e pode muito bem enfastiar quem se aventurar por aqui, se é que alguém virá. 


Gosto de pensar que alguém virá e dou esse breve aviso não por modéstia (qualidade que não tenho muito) mas por  uma amabilidade de minha parte, a você que leu até aqui estas minhas linhas.
Obrigado por fazê-lo e saiba que eu desejo, de coração, tê-lo atingido de algum modo. Mas não espero tanto. Só espero que volte aqui algum dia e me dê a oportunidade de atingi-lo de fazer alguma diferença ou provocá-lo, mesmo que seja com tédio, porque o que assusta de verdade, é ser emocional e intelectualmente inofensivo.

Bem vindos aqui!

Em tempo; O ponto de interrogação no título do post é porque já tive três blogs e portanto, este não é o meu primeiro, como o ultimo que escrevi em outro lugares não foi também o ultimo. Começo e fim são apenas questões de semântica. Talvez...


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