Estou com dor de cabeça. Fiquei assim o dia todo e a julgar pelo andar da carruagem, ela vai persistir madrugada adentro.
Se for parar para pensar, até que é uma coisa boa ter uma dor de cabeça. Porque os engraçadinhos têm certa razão e da dor concluo que eu TENHO uma cabeça que dói, ou seja, a dor não é a única coisa que tenho. Parece bobagem e talvez seja mesmo, mas é também um pensamento otimista se for comparado com a triste constatação de que por vezes, a dor é a única coisa que te lembra que você ainda tem algo ou que está vivo. A hora em que a dor cessa, já não há mais esperança para o moribundo. Viva a dor de cabeça! :)
Essa ambivalência dos sentidos é que torna a vida complicada e um complicador às vezes. Tem que diga que a vida é um “eterno desejo a se realizar”. Outros falam em “viver intensamente”. Quero, com honestidade compreender e não apenas fingir, como freqüentemente fazem os propagadores entusiastas dessas idéias, o que é realmente “viver com intensidade”.
Desejo a se realizar... Do modo como a coisa é posta, parece então que viver é buscar algo com afinco e se eu busco, logo vivo. O quão intensamente, creio, seja uma questão de quanto eu alcanço nessa busca. Talvez fosse mais fácil se eu buscasse coisas materiais, digamos, dinheiro, para simplificar as coisas. Talvez fosse possível viver com alguma intensidade, porque consigo imaginar uns mil e seis modos de se conseguir dinheiro. Essa minha atitude um tanto desapegada das coisas materiais não é sensata, porque vez por outra tenho de recorrer a cartão de credito ou cheque especial para comprar um livro ou pagar alguma conta de ultima hora. Azar meu!
Mas me consola saber que por mais dinheiro que eu ganhasse, tanto mais gastaria e nunca seria o bastante para que eu parasse de desejar as coisas. E nas raras ocasiões em que sei lá como, consigo por a mão numa quantia razoável, a intensidade da vida vivida dura tanto quanto durar o dinheiro e como o preço das coisas anda nas alturas, viver com intensidade tem se tornado cada vez mais caro, portanto, mais breve. E o que eu disse sobre dinheiro vale para todas as buscas materiais: São coisas que valem e não valem a penas buscar, porque são coisas que se perdem fácil demais.
Daí, não sei quando, encasquetei de viver intensamente através de uma busca alucinada por compreensão. E antes que alguém pense que a busca por conhecimento seja algo nobre ou virtuoso, me deixe avisar que no meu modo de pensar, conhecer uma coisa é dominar essa coisa, logo, a busca por conhecimento é na verdade uma busca por poder.
O problema é que há aqui também uma ambivalência do sentido, porque quanto mais aprendo, junto à boa sensação de poder oriunda do conhecimento adquirido, rasteja uma compreensão dolorosa do quanto ignoro. Quero dizer, aprendi algo que há um minuto não sabia e percebo que há muito e muito e muito que eu não sei e o fato de ter a minha frente uns 30 ou no máximo 35 anos de vida, percebo que não disponho de minutos o suficiente para compreender sequer a mínima parte daquilo que não sei. Ignorância ampliada pela compreensão.
É um tipo de dor de cabeça intelectual e enquanto penso nisso e a noite avança junto com a dor de cabeça, procuro o ultimo dipirona na mochila, enquanto considero seriamente se não seria melhor abandonar essas ponderações e me empenhar em dar umas irmãs de 50 e 100 para as minhas ultimas notas de 5 e 10 reais...
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