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terça-feira, 31 de maio de 2011

Neve e Trigo




Da neve branca e farta bloqueando caminhos, rompem brotos verdes rumo ao céu;
Mas o frio expulsou-me da janela um pouco antes do cair da noite e meus olhos perderam o lento e belo fim do inverno. Minha lareira quase se apagou e eu precisei reavivar as chamas. Invejo a força das plantas sob o gelo, mas compartilho com elas seu amor ao sol.  Ergo meus braços a ele numa oração lenta algumas vezes, mas como toda divindade que se preze, o sol Ignora solenemente os meus rogos.


Minha casa é repleta de fantasmas, bem o sabes... E tua forma vem preenchê-la sempre de alegria, espantando as sombras, quando, exausta de viagens e farta de estradas, apetece-te passar algumas horas comigo à lareira. Então mesmo desperto, conheço um pouco do que é felicidade.

Haverá por certo pousos melhores que este, em lugares mais ridentes e paragens com mais cores, jardins bem cuidados e frescos campos gramados, terras amenas de vento suave... Mas nenhum que vá amar-te tanto,  mesmo a sombra do teu vôo quando partes, nenhum que deseje tanto o teu pouso esporádico, quanto a minha casa. Nenhum que reconheça suas plumas numa multidão de outras asas, anjo infinito de cabelos ao vento... E eu ainda serei o teu lar, porque só podes repousar em mim.

Se o mesmo vento soprar a apagar minhas velas... E olhando em volta ver que junto com minhas chamas, levou o vento suas asas diáfanas... Bem, a alegria por vezes dura um instante apenas, mas é um instante imbuído de eternidade. Haverei de passar a vida esperando esses instantes em que eu sou eterno...


E ainda que eu não coma pão, ganho por causa dos campos de trigo e sentirei o  cheiro dos teus cabelos no ouro dos raios do sol.

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