O copo é outro, claro, eu porém, penso ser o mesmo ou, no mínimo, reconheço-me nesses fragmentos que ficaram daquilo que eu fui.
Renovo o meu Eu antigo dando-lhe polimento e reestreio velharias psicológicas no afã de forjar do mofo algo que seja novo e reluzente.
Mas a questão que me paralisou, foi que eu bebi do copo muito menos agua do que usei momentos depois, para lavar o copo no qual bebi.
Absurdo e absorto, fiquei feliz e triste pelo dilema que iria me consumir nas próximas horas e pela água que desceu pelo ralo em maior abundância que pela minha garganta.
Os paradoxos, são o meu brinquedo favorito para passar as horas de ócio meditativo.
Uma criança a brincar com cacos de vidro e lâminas de barbear.
"Para inicio de conversa - pensei enquanto lambia o sangue dos dedos e recolhia os cacos do chão - , eu nem mesmo estava com sede de água, mas de metafísica e de poesia."
E mais ainda - será que o que ainda em mim há,
Há de querer o que não há mais em mim? -
Não tenho o bastante que me inspire a ser generoso,
Mas bem posso compartilhar ausências e dividir meus hiatos.
"Mas como me falta o que quero e o que tenho não me preenche,
estou cheio de insuficiências,
repleto de vazio e transbordante do desejo de estar cheio."
A terra girou tantas vezes em torno do sol e eu, sem eixo, em torno de mim mesmo,
E nem entrou na minha contabilidade líquida,
As lagrimas que verti, (tolo e comovido com a própria tolice),
Quando pensei no oceano que lancei pelo ralo,
Nos meus atos de higiene equivocada.
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