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segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Destes pedaços de Luiz que Vou largando Enquanto me perco - ou sobre uma tela em branco

 

Paralisia súbita, nos dedos e nas ideias, enquanto olho impassível a tela em branco. 

...

"Que diabos estou tentando fazer?"

É difícil dizer honestamente o que move a maior parte das nossas ações. Só o ato de pensar nisso já nos paralisa.

Como agora ha pouco, diante da tela em branco.


Olhei o vazio na tela e pensei:

"Que lindo! Imagine esse nada magnífico na cabeça e nas artérias". 

Senti um calafrio agradável e involuntário deixar minha pele arrepiada enquanto navegava neste devaneio...

Mas não. O niilismo barato não vai me salvar no dia de hoje.

E então os dedos se movem e lá vou eu, tanteando no escuro e no teclado, deixando mais fragmentos de minhas dúvidas emporcalhando a existência...

As vezes fico furioso e nostálgico... Saudoso, não de situações e nem necessariamente de pessoas, mas da época em que eu me iludia de que no fim, conseguiria inferir algum sentido nessa loucura chamada "vida". 

O fim se aproxima, vou descrendo de tudo e sinto saudades do meu otimismo militante e fanático.

No entanto, um dos resultados trágicos do amadurecimento é a perda da capacidade de se auto-iludir. 

Abala mais do que rugas e dores nos joelhos.

Gosto de pensar que sou movido por motivos nobres ou virtuosos, mas como fugir da sensação amarga de que na verdade sou só mais um animalzinho assustado com medo da noite, com a barriga roncando de fome, procurando me aquecer e atender a urgência do cio?

...

Tenho evitado ler ou conversar com pessoas que amo e admiro, porque sei que tudo o que vou pensar em seguida, qualquer coisa que me saia da boca ou dos pensamentos que enxameiam o meu cadáver cerebral, será então um diálogo íntimo e intuitivo com essas letras e com essas pessoas. 

Traçarei a linha das minhas ideias reagindo por dias com lirismos alheios e vou afirmar envaidecido pra mim mesmo, que sou qualquer coisa de extraordinário como pensador, enquanto meu desamparo debocha e afirma o contrário... 

Quando na verdade, minha maior ambição seria não pensar em nada. Não reagir a nada. Ficar tal qual essa tela que minutos atrás estava limpa das contradições cansativas que nela digitei.

Quando tudo parece encolher como em um outono perene...

Quando na verdade tudo no mundo me confunde  e eu ainda que eu ame, já estou meio farto de amar as pessoas de maneira tão súbita e ardentemente. 

E me pergunto se alguém já esteve realmente farto de amar ou se foi só uma  maneira melodramática e menos poética de dizer que "o meu cansaço é um barco velho apodrecendo em praia deserta..."

Além do mais, amor não solicitado dificilmente é bem recebido ou valorizado (se tolerado)

Talvez pensando nisso, andei relendo algumas coisas que escrevi ha mais de uma década atrás, época em que eu ainda me permitia apaixonar pela ficção que eu criava das pessoas e só o diabo sabe como me diverti lendo aquilo.

Já consigo olhar com simpatia para o moleque de  trinta e poucos anos que eu fui (o que já e um avanço), mas não consigo fazer as pazes com minha versão de cinco anos atras e sinto um rancor profundo da pessoa que eu era na semana passada.

Talvez eu possa concluir disso que provavelmente  daqui a 12 anos (Deus!), aos sessenta anos serei indulgente para com este ser por quem agora sinto exagerada repulsa, mas é quase certo que nesta mesma época terei pensamentos amargos sobre mim mesmo aos cinquenta e tantos anos.

Acho que na verdade, se vivermos o bastante vamos concluir que nunca somos o que queremos ser.

Só reinventamos o personagem que até ontem interpretávamos e seguimos o roteiro da vida que nos convenceram de que era a nossa.


Agora são 16:21

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