Tanto na arte gráfica quanto na qualidade do que escrevo.
"Mas se eu esperar ter novamente aquela chama criativa que me acometia em momentos de epifania, em que eu estava em êxtase por reinventar a roda, acho que nunca mais escrevo."
Não há nada de novo debaixo do sol...
Reconheço que me esmerava mais para que vir aqui fosse interessante a quem por acaso me lesse, porque intimamente eu tinha consciência de que plagiava a mim mesmo constantemente, compartilhando vez após vez a minha estupefação por estar vivo.
Estou vivo.
Vivo e faminto de viver.
Isso resume praticamente todos os meus textos ao longo dos anos.
E passado tanto tempo, desde que ficava absorto olhando pro céu da minha infância imaginando como diabos aquelas nuvens enormes pairavam acima, livres, enquanto eu, pequeno e esquálido, não conseguia sair do chão, estou estarrecido por ter aprendido tão pouco e já quase no limiar de minha vida, ainda não saber como viver neste mundo de regras tão absurdas.
Isso é cansativo.
Eu não viajo muito. Se viajasse mais, teria fotos na praia ou coisa que o valha para postar em rede social. Que eu não tenho.
Também não tenho cachorros. As pessoas gostam de fotos de cachorros e de gente na praia, creio.
Ainda que eu suportasse o sol a pino, areia na sunga e em todas as minhas cavidades corporais, e pêlos nas roupas e cheiro de xixi pela casa, não consigo imaginar que motivos alguém teria para ficar olhando minha vida desinteressante, meu vira-latas pulguento dentre tantas vidas desinteressantes e vira-latas que já pululam nas redes sociais.
Na falta dessas coisas (que, contrariando minha falta de imaginação, aparentemente é tudo o que interessa as pessoas hoje em dia), compartilho como sempre fiz meu desamparo diante da minha vida que se esvai e da fome de viver que se torna aguda como uma coceira que não se pode coçar.
Tenho estado em guerra com a minha humanidade. Batalhando ferozmente contra meus instintos (que perto de completar 48 anos, penso que já deveriam ter se arrefecido), pensamentos, vontade de agir ou de inércia e me sinto perdido.
Como se ser gente fosse errado.
Talvez seja mesmo.
Talvez a nossa humanidade seja um crime.
Do contrario eu não receberia tanta sanção da minha consciência apenas por querer, como toda a gente, exercê-la.
Somos pois, uma raça de criminosos naturais?
Isso é o que posso dividir hoje...
Amanhã talvez eu me atreva de novo a ser gente e a reinventar roda.
Não sei porque, e na verdade sei, a ideia de "uma coceira que não se pode coçar" me lembrou "O morro dos ventos uivantes", recentemente comprei uma nova versão do livro... ainda não li ele desde que ultrapassei a barreira dos 30 anos.
ResponderExcluirOs seus textos ao longo dos anos foram todos intensos e maravilhosos, um delírio e um deleite. Acho isso fabuloso em você, talvez pq eu seja sobretudo uma leitora que gosta de bons textos e torço para que por muito tempo você esteja ai e aqui reinventado a roda e vivendo.
Querida amiga...
ResponderExcluirProvavelmente foi daí que tirei essa expressão. Não sei dizer ao certo, mas suspeito que sim. Um livro amado deixa uma impressão muito forte em nossa psiquê e nos tornamos uma amálgama de nossos personagens e autores favoritos.
Fico orgulhos de que tenha percebido o que assimilei da maravilhosa Emily Bronte.
Conto que todos estejamos aqui, ainda que esporadicamente, para celebrar nossa existência e compartilhar um pouco do Caos nosso de cada dia.
Vou comentar que em março de 2023, esse texto continua tão bom quanto em julho de 2021 e é um absurdo que já tenha passado quase dois anos. Mais de uma década e eu ainda fico absurdada com o quanto você escreve bem e o quanto gosto de ler seus textos. Um amor de longa data!
ResponderExcluirComo pode ver, minha amiga, ainda estou estupefato com o fato de estar existindo e reinventando (ou ao menos tentando com bravura) toda uma roda de sentido. Esse é o pão da minha inquietação e sempre haverá lugar a minha mesa para voce, que o tempo não levou.
ExcluirCheros!