Me ocorreu e isso que me ocorreu é uma coisa tensa, eu diria, e como o termo “tenso” está muito em voga hoje em dia e eu me penso naturalmente alérgico ao que “está em voga”, sinto- me um pouco tolo e levemente traído por mim mesmo ao usar essa palavra.
Ao diabo, com isso!
Até que eu tenha um meio, capacidade e interesse de falar sem palavras (fonadas ou escritas), não hei de pensar que a moda se apossou e na mesma hora me desapossou do uso da língua portuguesa.
É apenas que me ocorreu depois de uma persistente febre seguida de uma preguiça tenaz, que nós somos todos crianças entediadas num jardim de novidades voláteis. O problema é que nenhuma novidade extingue o nosso tédio obstinado e queremos sempre um brinquedo novo e maravilhoso, quando aquele que há um minuto nos iluminava o olhar, tem seu brilho pouco a pouco esmaecido.
O problema é que ali naquela esquina, algo vai me encontrar, algo vai se abater sobre a minha cabeça e eu acabei por pensar que é absurdo esperar que seja sempre algo venturoso. Posso esperar que me caia na cabeça, talvez a módica quantia de alguns milhares de dólares (coisa que me seria bem útil), mas jamais vou pensar que os mesmo virão do céu embalados num cofre de meia tonelada, como naqueles desenhos viciantes de Hanna e Barbera.
Porque desejos são mais traiçoeiros do que sonhos, tenho de me lembrar de nunca esquecer que devo ter redobrado cuidado com aquilo que desejo.
Talvez seja trágico consegui-lo.
Febre e preguiça, hum... Tive uma boa dose dessas duas coisas nos últimos tempos, aliada a uma sempre renovada vontade de dormir uma noite de cem ano!!! É tenso... Não, eu não tenho problemas com expressões da moda rsrs
ResponderExcluirMeu amigo, você e suas reflexões, sempre me levando por um turbilhão de considerações sem fim...
Também gosto de considerar o perigo dos desejos, porque suponho que todo desejo tem um preço e desconfio que dificilmente estamos estamos preparados para pagar esse preço!!! Não estou certa disso, mas se não me engano foi o velho e bom Buda que ensinou que o nosso eterno desejar e a fonte de nossas infelicidades e que a paz reside em nada desejar, mas eu não estou certa disso... talvez tenha sido outro mestre que me apontou isso e agora eu troquei as bolas rsrs
A proposito, as vezes também acho que somos crianças em um jardim de novidades voláteis em outros momentos eu tenho certeza, apenas acrescento que algumas crianças por incrível que pareça se apegam a um único brinquedo e ficam com ele até que ele se dissolva de tão velho e ou que a mãe ou a tia joguem ele fora enquanto dormem, eu fui/sou esse tipo de criança.
Cheros e se cuide...
Cara Pandora...
ResponderExcluirJá pensei bastante nessa paz de Buda e não tive como discordar dele. Acrescentei a impressão (imprecisa)de que a mãe do desejo é a falta e o filho do desejo é apenas outro desejo.
Eu leio a paz nirvânica de Buda como um tipo de paz niilista apenas porque sinto o niilismo mais provável, possível e próximo de mim e mais factivel ao tipo de ser humano que sou, mas ainda assim, paz suficientemente boa a ser perseguida (não desejada, porque aí seria uma desajustada contradição. Desejar não desejar nada já é um conceito que bem poderia ocupar nossos pensamentos por alguns anos e pode já a partir daí enunciar um princípio de iluminação.
Obrigado pelo seu sempre pertinente comentário.
Ah, acho que sou mais uma criança paralisada num autismo estranho, considerando porque devo desejar ou não desejar um brinquedo ou pensando na natureza da fugacidade deles.
Cheros!