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quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

O Elixir e a Pedra



“Vais arder...
E eu serei a mirra.


Uma vez em um sonho alguém me havia dito que "a beleza real de uma consciência desperta, é que em pequeno espaço dela podem caber muitas estrelas."

Houve época em que eu podia facultar ter ilusões de que poderia atribuir significado a tudo e a nada. 
Era esse o meu modo de abrir uma consciência em universo sonâmbulo.


Até que aconteceu.

Senti isso aflorar como algo que buscou passagem por um longo tempo, passando por caminhos estreitos e labirintos, cavando, fluindo por brechas e fendas na pesada armadura da razão, até vir à luz da percepção.

É daquelas coisas, que despencam nos sentidos, preenchendo espaços até então dotados de um vazio ignorado, causando reações de violentos ciúmes em toda a sua lógica, porque a razão luta com unhas e dentes para se apropriar desse território estrangeiro. 
Esse, em que sentimos um estremecimento, um reconhecimento de algo que escapa à explicação racional.

Nada nesse universo é como você espera, a não ser, talvez, a decepção advinda da expectativa.
Preso a esse dogma, um dia parei de esperar e quando o fiz, aquilo que não mais esperava veio.

Eu olhava para aquilo a que não pude dar nome, com a certeza (eu que nunca tenho certeza de nada) de que era exatamente como deveria ser e isso por si só já deveria causar um estranhamento...

Mas aquela certeza pulsava na minha mão como um coração em chamas, e crepitava à minha volta como uma translúcida neblina flamejante.

Tal qual um primeiro homem reverente ante o primeiro fogo, observei, e, no entanto, esse era um fogo que não queimava ao toque, que não servia para servir, que não espantava o terror da noite.

Era uma chama que ardia sem consumir lenha, um sol que sempre iluminaria o vazio, uma estrela que nunca cairia do céu. Espantava o terror do terror.

Fiquei atado à sina fatal dessa ambiguidade, pois Sempre e Nunca jamais deram as mãos em qualquer definição que eu pudesse dar a um grande mistério ou a um devaneio. 

Mas lá estava ela, a Definição, algo que não necessitava de palavras, mas de sentidos e ainda assim, estou inerte, sem versos, tentando determinar o que não se pode trancafiar no arcabouço limitado da linguagem...


E ainda que certo receio antigo e enraizado (nas mesmas profundezas de onde me veio aquilo de que estou certo) insista para que eu deambule em incertezas, um vácuo de calma fatalista se apossa de mim e eu, que nunca consegui silenciar as vozes da mente, me encontro final e magicamente em transe...

8 comentários:

  1. carlos. não sei bordar comentários indulgentes ou lisonjeiros como os seus. mas quero que saiba, leio tudo com apreciação. você disse que esse arcabouço, o da linguagem, é limitado. eu me pergunto se não seríamos nós a entrar só pela metade nesse cômodo, com medo da sombra, e perdemos a chance de explorar tudo quanto for possível. mas também é verdade que tudo tem um limite. sigo lendo em silêncio, e agradeço pelas visitas, é um valioso estímulo. leticia.

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    1. Cara Letícia...
      Eu compreendo a dificuldade em comentar. Quem realmente se sente tocado pelo que leu, não quer ser redundante ao falar do que experienciou na leitura.

      Acho notável na blogosfera essa nossa capacidade de interagir com nossos autores favoritos, coisa que não podemos fazer em outras mídias e nesse aspecto, sinto-me mais próximo a você e a outros que leio sempre por aqui do que de Gaiman, Sheldon e/ou outros escritores profissionais, tanto vivos quanto alhures.

      E nesse cômodo, as vezes me confundo com a sombra que nos amedronta, com o aparente inexistente limite entre ela e eu e o fascínio talvez seja o que me prende no possível, enquanto o impossível me escapa pelos dedos...

      E igualmente, sigo lendo e, sempre que possível, em silêncio.

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  2. Sahge, meu demônio! eu nunca sei como te ler pois vc é uma metáfora ambulante, amore. Parece até que teve uma revelação religiosa.
    Lindo!!!!!

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    1. Helena, minha cara, leia-me com senso de humor, uma atitude mística e irreverência. mas especialmente, me leia, pois como disse minha amiga letícia em comentário acima, é um grande estímulo. Eh, bien, penso que atualmente me sinto incapaz de experimentar qualquer fenômeno religioso, o que não impede que eu seja misticamente empírico, como é o caso presente.

      "Meu demônio"??!!
      Moça, está mesmo decidida a me seduzir, não é?
      KKKKKKKKKKKKk

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  3. Ah, Sahge!
    Tão bom encontrar algo que nos foge à razão. Como se fôssemos únicos proprietários de determinados sentimentos...

    Tenho saudades das suas palavras.
    Espero que você logo retorne.
    Um beijo, meu querido.

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    1. Helena, minha querida...
      Aqui estou, de volta com meu texto nervoso.
      Gostaria realmente de ter elaborado algo mais construtivo e menos denso para compartilhar, mas como acabo de citar em seu Blog, "febre de sentir".
      ^^

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  4. Eu adoro isso aqui!
    .
    .
    P.S.: Bateu saudades e vim aqui antes de dormir (eu era uma pessoa madrugadora, mas Jaboatão mudou isso em mim haha), mas depois de ler novamente o que já tinha lido antes e antes de antes também só pensei "Eu adoro isso aqui!".

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    1. Pandora...
      Não sei se ja te disse que você é uma surpresa agradável, moça.
      Quantos anos me honrando com sua presença e leitura?
      Isso aqui adora você!
      Quanto a madrugadas...Bem, digamos que tenho tido as minhas.
      Acho que se um dia o mundo vir a ter fim, será bem de madrugada, só pra obrigar a gente a levantar cedo.

      Cheros...

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