Minha visão monocromatizou em cinza essas manhãs de maio e minha percepção esticou as noites e encolheu os dias...
Mas que tem isso? Tudo se encolhe, se recolhe, pássaros ficam mudos nos ninhos, estrelas aparecem frias por entre as brechas do cinza das nuvens e eu sonho com o Atacama.
É inverno até no inferno.
Sorri quando me lembrei de quantas vezes tive de tirar minha dor do caminho do seu sorriso, antes de pegar uma autoestrada qualquer na qual eu pudesse final e irremediavelmente cair fora do mundo e para dentro de mim, mas hoje...
Me cansa esse desejo constante por decadência e meu niilismo dá lugar a um profundo anseio por sol, vento, e caminhos abertos.
Me cansa estar sempre em fuga, sentado no mesmo lugar de onde tudo em mim grita para sair...
Mas a casa está confortável e quente e eu nutro um autodesprezo doloroso por estar igualmente confortável, olhando pela janela o infinito do mundo em desafio.
Talvez você saiba quem sou eu, mais do que sabem minhas dúvidas, meus únicos pontos de referência na constante interrogação de mim mesmo...
E eu penso em você...
Penso em você até quando penso estar pensando em outra coisa.
Penso nos lugares alienígenas e maravilhosos por onde esteve e por onde sua presença igualmente alienígena e maravilhosa deixou e guardou marcas e me sinto encolher em febre...
Pois me dói pensar que é mais provável que assim como eu, você esteja olhando por alguma janela de algum lugar, desejando que seu corpo possa correr pelo mundo, junto à sua alma fugitiva.
Talvez haja sol aí,neste seu lado da realidade e talvez você cante com minha voz alguma canção que soe subitamente estranha e triste..
Porque eu sei que você me acha estranho e triste e eu fico intrigado do motivo de eu gostar tanto do seu engano de pensar que eu sou uma única coisa.
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