E o caos, contraditoriamente, está na ordem do dia.
Acho que aquela parte metafísica do homem que costumeiramente chamamos
de “coração” é o mais vigoroso agente e também morada do caos em
nós.
Por outro lado, se existe um órgão humano que está ligado à ordem das
coisas, esse é o estômago. Porque é o estômago a doer quando as coisas estão
caóticas, um formigamento próximo ao diafragma que pede desesperadamente para
que as coisas se aquietem de alguma forma.
Elas tendem a aquietar-se, porque a diferença entre o homem e o universo
que o cerca (e também o que nos torna singulares), é que o homem tende ao caos,
mas o universo tende a ordenar-se e a aquietar-se, daí o homem ser, para
prejuízo seu, um ser rebelde por natureza, contra a regularidade das coisas.
Nós só existimos porque "balançamos o barco". Dói como o inferno, mas
é a nossa natureza ser contrários a natureza.
Tudo se aquietará, mas nada será como antes. E a mudança traz medo, que
é o sentimento básico por detrás do desejo por ordem.
Há hora para tudo. Essa é talvez uma hora de escuridão e de tempestade.
Uma hora de incertezas e de tempo fluido. A impressão doida e doída de que o
furacão talvez esteja ainda no olho e sei-lá-o-que nos espreita a espera de
mais um poderoso e doloroso golpe.
Por dentro do emaranhado de neurônios e hormônios, demônios
dançam na confusão de um monte de sentidos e o mundo interno está de
ponta-cabeça invertida e ao contrário.
Mas lá fora, o sol ainda brilha, o vento balança nas árvores, a bolsa de
valores oscila, “os homens fazem guerra e Mona Lisa continua sorrindo”.
É estranho...
Mas o caos está só nas entranhas do homem.
Diagnose
Multiplicamos doenças por prazer,
Inventamos uma necessidade horrível, uma dúvida vergonhosa,
Regalamo-nos na licenciosidade, nutrimo-nos da noite,
Criamos balbúrdia no íntimo – e não saímos.
Por que sairíamos?
Despojado de sutis complicações,
Quem poderia encarar o Sol senão com temor?
Este é o nosso refúgio contra a contemplação,
Nosso único refúgio contra o simples e o claro.
Quem irá sair rastejando de sob o escuro
Para ficar indefeso no ar ensolarado?
Não há terror da obliqüidade tão certo
Quanto o mais notável terror da desesperança
De saber como é simples a nossa mais profunda necessidade,
Como é intensa, e como é impossível satisfazê-la.
Marcia Lee Anderson