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segunda-feira, 12 de julho de 2021

Texto sem data (ou ainda em busca de sentido)

É, eu sei que já fui mais caprichoso aqui...
Tanto na arte gráfica quanto na qualidade do que escrevo.
"Mas se eu esperar ter novamente aquela chama criativa que me acometia em momentos de epifania, em que eu estava em êxtase por reinventar a roda, acho que nunca mais escrevo."
Não há nada de novo debaixo do sol...

Reconheço que me esmerava mais para que vir aqui fosse interessante a quem por acaso me lesse, porque intimamente eu tinha consciência de que plagiava a mim mesmo constantemente, compartilhando vez após vez a minha estupefação por estar vivo.

Estou vivo. 
Vivo e faminto de viver.
Isso resume praticamente todos os meus textos ao longo dos anos.
E passado tanto tempo, desde que ficava absorto olhando pro céu da minha infância imaginando como diabos aquelas nuvens enormes pairavam acima, livres, enquanto eu,  pequeno e esquálido,  não conseguia sair do chão, estou estarrecido por ter aprendido tão pouco e já quase no limiar de minha vida, ainda não saber como viver neste mundo de regras tão absurdas.

Isso é cansativo. 
Eu não viajo muito. Se viajasse mais, teria fotos na praia ou coisa que o valha para postar em rede social. Que eu não tenho. 
Também não tenho cachorros. As pessoas gostam de fotos de cachorros e de gente na praia, creio.
Ainda que eu suportasse o sol a pino, areia na sunga e em todas as minhas cavidades corporais, e pêlos nas roupas e cheiro de xixi pela casa, não consigo imaginar que motivos alguém teria para ficar olhando minha vida desinteressante, meu vira-latas pulguento dentre tantas vidas desinteressantes e vira-latas que já pululam nas redes sociais.

Na falta dessas coisas (que,  contrariando minha falta de imaginação,  aparentemente é tudo o que interessa as pessoas hoje em dia), compartilho como sempre fiz meu desamparo diante da minha vida que se esvai e da fome de viver que se torna aguda como uma coceira que não se pode coçar. 

Tenho estado em guerra com a minha humanidade. Batalhando ferozmente contra meus instintos (que perto de completar 48 anos, penso que já deveriam ter se arrefecido), pensamentos,  vontade de agir ou de inércia e me sinto perdido.
Como se ser gente fosse errado. 
Talvez seja mesmo. 
Talvez a nossa humanidade seja um crime.

Do contrario eu não receberia tanta sanção da minha consciência apenas por querer, como toda a gente, exercê-la.
Somos pois, uma raça de criminosos naturais?
Isso é o que posso dividir hoje...
Amanhã talvez eu me atreva de novo a ser gente e a reinventar roda.



terça-feira, 30 de março de 2021

O Segredo do Inferno

 


Então me deixe contar uma historinha curta:

D'Ararzzen era um mago que jogava cartas com o Diabo.
Não que ele fosse um mago "maligno" ou das trevas. 

Bem e mal era abstrações, a seu ver, das mais tolas.


Era só que o Diabo tinha um repertorio de piadas melhores do que Deus.

E Deus não gostava de perder.

("Eu que inventei essa droga de jogo!”, obtemperava em noites de mãos ruins.)

Além do mais, o mago era excelente jogador de pôquer e toda vez que ganhava de Deus sentia aquela ameaça velada...

Em noites em que Deus perdia muitas rodadas, resmungava furioso e ao longe ressoava um trovão.

“Vem chuva por aí...”, comentava D'Ararzzen, utilizando um subterfúgio pra se levantar e ir embora.

Vai nada!”, o Onipotente determinava.

Senta aí! Se eu quisesse, chovia quarenta dias e noite e acabava o mundo. Mais aí eu não ia poder recuperar minha grana nessa mesa. Revanche?

D'Ararzzen se sentava e , ainda que não fosse um sábio (se fosse não estava jogando cartas com aqueles dois), era inteligente o suficiente para rir sem graça das piadas sem graça de Deus e sair daquela jogada perdendo de proposito, mesmo tendo cartas melhores.

O Diabo ria e debochava mentalmente da cautela do mago: “Bundão!”


Enfim.
Uma noite, Deus não conseguiu uma desculpa boa para comparecer ao jogo, e na mesa em que só dois jogavam, o diabo estava em uma onda de azar.


Em resumo, o mago já tinha ganhado várias rodadas e o diabo estava ficando sem grana até pro taxi.

Estava tarde e D'Ararzzen decidiu encerrar a jogatina.
Mas o diabo teimoso insistiu em uma ultima cartada.

"O dobro ou nada!"

"Sem essa! Você já não tem mais um vintém nos bolsos...Vai apostar o que?"

O diabo pensou e não ia deixar barato. Afinal, era um mal perdedor assim como Deus.


Havia perdido até as calças no carteado, mas apostou o segredo mais bem guardado do inferno.

O mago, que era além de bom jogador, um excelente trapaceiro, topou e após o Diabo vitoriosamente lançar um Flush sobre a mesa,  com um Straight Flush esmagador venceu e obrigou o diabo a contar o tal segredo.


Puto da vida ('Eu que inventei a trapaça, merda!!"), o diabo pegou seu chapéu da mesa pra ir embora, virou o último trago de conhaque (com cinzas de cigarro dentro, pois foi usado como cinzeiro pelo mago e por ele próprio minutos antes) e ao sair, contrariado, mas fiel a sua palavra,  vociferou entredentes o tal segredo.


Que vou dividir com vocês agora.


"O segredo do inferno", disse o diabo,
"É que ele é completamente facultativo...”

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