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segunda-feira, 15 de abril de 2019

Epílogo



Desde que comecei a "escrevinhar" aqui, em idos 2011, forjei no meu entusiasmo 356 postagens(boa parte deletada em meio a ondas tolas de constrangimento), a maioria coisa minha, digitada no afã de ser relevante.
Pra não falar de outras coisas postadas em blogues deletados e em outros lugares por onde “pisei”

Mas por quanto tempo pode uma pessoa iludir-se a respeito da própria grandeza ou mesquinhez?

Olhando em retrospecto, meus motivos para escrever nunca foram puros..

Ora queria impressionar certa garota (que em minha imaturidade trintenária pré-"quarentária" eu imaginava que sorvia em secreto todas as minhas letras e, diabos me levem, talvez nem fosse uma garota de verdade! Mundo liquido da net e seus descaminhos...), ora queria  escrever e me colocar em condições de me comparar a meus escritores favoritos ou então tentava convencer a mim mesmo de algo.
Algumas vezes estava só com raiva ou melancólico...

De toda forma, quem é que pode afirmar para si mesmo que escreve com honestidade pura?

Toda essa minha glossolalia era um fútil exercício de afirmação de uma existência, e isso me parece agora tão desimportante que sinto uma pontada de desdém por mim mesmo, pois ao digitar isso agora, muito provavelmente estou me justificando e ainda no esforço inútil de existir para além da minha realidade individual.

Tem umas coisas que me deixam curioso... Quando checo as estatísticas, a a maior parte do trafego para meu blog vem de sites pornográficos. Não sei o motivo, mas se ao menos eu pudesse imaginar que meus devaneios deixam alguém com tesão, já teria valido cada teclada!
Ahahahahahah!


Eu não sei se alguém ainda lê alguma coisa.
E mesmo que haja, nada tenho de relevante a acrescentar a essa superprodução de verdades fugazes.

Já estou com 45 anos e, Deus, daqui a pouco eu morro e não curei o câncer salvando milhares e tampouco joguei lixo nuclear na  Praça 7 tornando BH inabitável por 1000000000000 anos e ainda penso que é terrível ser só mais um a pegar uma senha e aguardar na fila a minha vez de ser coisa alguma.

Ter todos os sonhos do mundo dentro de si não nos faz necessariamente deixar de ser o nada querendo ser alguma coisa.

Muito menos ser melodramático..


Devaneios...

É um ato de gentileza de minha parte não acrescentar mais nenhuma irrelevância ao muito que já existe por ai.

São poucos os que leem agora.
Com raras exceções (Gaiman é uma dessas), tampouco ando lendo o que se produz por ai (ainda aguardo a conclusão de Guerra dos Tronos que o filho da puta do Martin teima em deixar na gaveta!). Ja estou cansado de reler os livros que já li sei lá quantas vezes e quando leio algo na net, me apaixono mais pela pessoa que escreveu do que pelo que foi escrito (por que o que foi escrito já o foi antes, por muitos outros e me encanta ainda haver Quixotes a bater moinhos).

Não sei para que tipo de mundo caminhamos sem letras...Sem leituras...Sem livros...
Mas quer saber?
Que diferença faz?
O mundo acaba quando a gente morre, não é?
Ok, não jogo lixo no chão e evito como posso sacanear o planeta, mas no fim, mesmo que eu jogasse lixo na rua todos os dias, o planeta vai se recuperar de qualquer estrago que eu, individualmente, fizer assim como vai ser irrelevante qualquer coisa positiva que eu também faça.

Dentro do pouco que eu entendi ser a minha habilidade, tentei fazer algo (por motivos egoístas, já deixei claro, mas comparações inadequadas a parte, vai checar porque é que o Carrol escreveu Alice no País das Maravilhas...), tentei registrar nem que fosse o meu espanto por estar espantado...

Mas agora...

Pensei em sair de fininho.
Mas gente vaidosa nunca consegue o fazer, pois teme intimamente que se o fizer, ninguém notará.

Passei os últimos minutos rascunhando estes versos abaixo:

"A estrada é longa e devo toma la sozinho
A senda das sombras, A Jornada solitária...
A porta abre e a noite sopra promessas
De caminhos desimpedidos de chuva,
De estradas não lameadas
De dunas infinitas sob o açoite do vento e de praias vazias...

A estrada é longa e devo tomá-la sozinho
Atrás de mim o canto e os risos sobem com a fumaça das chaminés,
E eu não ouso me virar
Os corpos junto ao fogo e o aconchego camarada.
Os convivas da festa se alegram e ignoram a noite por detrás da segurança das paredes frágeis.

O estrada é longa e devo tomá la sozinho..."


"Caminhos desimpedidos de chuva..."
Ta bom...
 Coisa piegas e melodramática!
Bem o que eu imaginava que ia me tornar, perto do inicio da minha decrepitude.

Em 2008, quando comecei a me enredar pelos bits e bytes da net, travei conhecimento com uma amiga com quem não falo ha muitos anos...(Nossa, me deu um aperto de saudade e uma onda de autoraiva por minha estupidez covarde..)
Espero que o Rio Grande esteja tão grande quanto está ao Sul, Fada da Montanha Enluarada...
Ela me presenteou, logo que começamos a conversar com estes versos abaixo, os quais, segundo ela, faziam-na pensar em mim:

"vou pegar um vôo

antes que seja tarde demais
eu vou, não volto
nem por céu, nem no cais

vou até os astros
antes que entardeça horizonte
eu vou, sem rastro
bem de fronte, bem na fonte

vou sem hora, sem demora
aventurar em outros ares 
que aqui não mais posso ficar
no ansiar por novos mares 

vou sem rota, sem derrota
procurar outra parte de mim
que não sei onde perdi
no começo ou perto do fim"

(Cris de Souza & Cáh Morandi)



Agora, ainda que não possa mais ter ilusões a meu respeito, me digam se não tive bons motivos como meios de justificar minha vaidade?
De todo modo, isso foi em 2008 e embora a proximidade de meu horizonte de eventos particular tenha me dado mais serenidade/senilidade. a ânsia por novos ares permanece uma constante e eu acho uma pena deixar esse espaço depois de todos esses anos, mas...
Bem, digamos que não se deve colocar um ponto final onde bem cabem reticencias...
Mas por enquanto, “vou até os astros”

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