“Vais arder...
E eu serei a mirra.”
Uma vez em um sonho alguém me havia dito
que "a beleza real de uma consciência desperta,
é que em pequeno espaço dela podem caber muitas estrelas."
Houve época em que eu podia facultar ter
ilusões de que poderia atribuir significado a tudo e a nada.
Era esse o meu modo de
abrir uma consciência em universo sonâmbulo.
Até que aconteceu.
Até que aconteceu.
Senti isso aflorar como algo que buscou passagem
por um longo tempo, passando por caminhos estreitos e labirintos, cavando,
fluindo por brechas e fendas na pesada armadura da razão, até vir à luz da
percepção.
É daquelas coisas, que despencam nos
sentidos, preenchendo espaços até então dotados de um vazio ignorado, causando
reações de violentos ciúmes em toda a sua lógica, porque a razão luta com unhas
e dentes para se apropriar desse território estrangeiro.
Esse, em que sentimos
um estremecimento, um reconhecimento de algo que escapa à explicação racional.
Nada nesse universo é como você espera,
a não ser, talvez, a decepção advinda da expectativa.
Preso a esse dogma, um dia parei de esperar e quando o fiz,
aquilo que não mais esperava veio.
Eu olhava para aquilo a que não pude dar
nome, com a certeza (eu que nunca tenho certeza de nada) de que era exatamente
como deveria ser e isso por si só já deveria causar um estranhamento...
Mas aquela certeza pulsava na minha mão como
um coração em chamas, e crepitava à minha volta como uma translúcida neblina flamejante.
Tal qual um primeiro homem reverente
ante o primeiro fogo, observei, e, no entanto, esse era um fogo que não queimava
ao toque, que não servia para servir, que não espantava o terror da noite.
Era uma chama que ardia sem consumir lenha,
um sol que sempre iluminaria o vazio, uma estrela que nunca cairia do céu. Espantava
o terror do terror.
Fiquei atado à sina fatal dessa
ambiguidade, pois Sempre e Nunca jamais deram as mãos em qualquer definição que
eu pudesse dar a um grande mistério ou a um devaneio.
Mas lá estava ela, a Definição,
algo que não necessitava de palavras, mas de sentidos e ainda assim, estou
inerte, sem versos, tentando determinar o que não se pode trancafiar no
arcabouço limitado da linguagem...
E ainda que certo receio antigo e
enraizado (nas mesmas profundezas de onde me veio aquilo de que estou certo) insista
para que eu deambule em incertezas, um vácuo de calma fatalista se apossa de mim e eu,
que nunca consegui silenciar as vozes da mente, me encontro final e magicamente em
transe...