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terça-feira, 1 de março de 2011

Linhas - By Emily Bronte

O azul sem nuvens acaricia o olhar
E todo o ouro, o verde e o louro da terra,
Como em um novo éden rebentam nos ares.
Na terra e no ar encontrei o repouso.
Estava deitada e deslizei devagar
E mergulhei ao fundo ,onde reina
A minha infância.
Vi perderem-se ao longe as severas
Idéias,
E a doce memória triunfar finalmente
Das furiosas paixões e das pungentes iras.

Mas nele,
Que o sol agora iluminava
Banhando aquela fronte queimada,
Austera e negra,
Talvez despertassem (como adivinhá-lo?)
Os ecos de um murmúrio ou a doçura de um sonho,
Uma derradeira alegria,
Que depois de anos perdida
Numa frágil noite se tenha fenecido.

Este homem rude de férreo coração,
Parecia se muito comigo outrora;
Talvez tenha sido uma criança grave, ardente,
E sua infância deve ter visto
A gloria e os verões do céu.

Bem podem ter gemido no seu coração,
Ocultas tempestades,
Mas saberá ele esquecer em sua alma deserta
a antiga lembrança da primeira mansão?
Esquecer para sempre,sem esperança de volta?

Nem jamais voltar ver a imagem de sua mãe
Quando, relaxando os braços, doce e ternamente,
Abandonava a criança que seu coração
Preferia
Aos folguedos e aos jogos que duravam
Ate a noite?

Nem os lugares amados, nem as colheitas de flores,
Que a mão pequena apertava com ardor,
Ao voltar dos jardins onde a noite baixava
Misturando-se suave aos seus calmos cabelos?

Eu olhava a brisa
Brincar ligeira e beijar-lhe as faces,
Olhava seus dedos, fechados entre as rosas,
E espiava descer às suas faces
uma outra sombra, efêmera e dócil
Que na sua passagem lançava àquela alma
A ternura de um sonho.


Os olhos circulavam através da janela aberta
Do jardim cheio de reflexos ao céu
Maravilhoso.
E a esperança dos bosques se fazia mais
Profunda,
Aos cantos harmoniosos  da terra inumerável.

Ele silenciava e eu pude acreditar
Que talvez seu espírito
Consentisse ao repouso
Submetendo enfim aquele atormentado
Coração.
E na sua alma talvez surgisse a vaga
Do tranqüilo oceano que alimenta o sonho.

Quero estar mais próxima de espetáculo tão belo;
Verei seus olhos negros
Enfraquecerem e se velarem
Sob um santo orvalho,
E o remorso despertar na sua consciência
Para livrá-lo um pouco do peso
Destas culpas.

Eis talvez, a hora em que os destinos sonharão
Com o fim deste fatal poder que o inferno ostenta.
Ver-se-á o próprio céu descer de suas alturas
E saudar a alma em gritos, e o amor que salva.

Atenta, em segredo, retive os meus olhares.
E devagar meu pensamento seguiu o raio de luz,
Cujo brilho tinha furtado à sua passagem:
Surpreendi então nas suas pupilas a fria indiferença
Com que fitava o esplendor do lugar.

Oh!
O crime pode envelhecer uma alma ainda
Jovem,
Mais cedo do que os anos de exaustivo
Sofrimento,
E congelar o calor de um sangue generoso
Como o vento de inverno ou a neve dos pólos.

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