Na manhã do dia 19 de
dezembro de 1973, Saturno devia estar dando um “rolê” ali pela casa de Plutão
e Sagitário estava alinhado com a constelação de peixes....
E eu estou fingindo
pessimamente que sei qualquer coisa de zodíaco para explicar coisas para as
quais não encontro explicação.
Por exemplo, o fato de que,
sendo um modelo da safra de 73, vim com itens de série, mas diferente dos
demais que saíram daquela fornada, aparentemente me fabricaram desprovido do
dispositivo singular chamado coloquialmente de “botão-do-foda-se”.
E olha que já revirei cada
canto metafísico meu a cata do dito cujo, porque quantas e tantas vezes me
exortaram a ligar o danado, perdi a conta. Ou então eu estou procurando no
lugar errado, e esse item esteja escondido somaticamente, por detrás do baço ou
por dentro do pâncreas ou em qualquer outro lugar inacessível a minha percepção
ou toque e, portanto, inviabilizado de ser acionado.
Talvez seja o caso de fazer
um recall, mas meus pais, em tese, tinham
justamente função de me fazer negar a existência do meu inexistente “botão-do-foda-se” e ser miseravelmente
responsável. Então como vou lá eu aos enta
anos pedir que me equipem com algo que deveriam - em tese(2) - prover-me na
concepção?
Talvez devesse pedir pra
Deus então, mas ainda que eu soubesse a qual dessa miríade de seres superiores
que existem - em tese(3) -acima do céu monoteísta – em tese(4) – pedir, até o momento, ele(a) tem solenemente
ignorado todas as orações sem fé que tenho deixado em secretária eletrônica.
Até onde posso ver, sou
despossuido desse dispositivo.
Isso talvez explique o porquê
de eu nem mesmo conseguir ouvir uma musica sem pensá-la.
Diabos, deve ser bom demais
estar dentro da própria pele sem senti-la como a um casaco velho grande ou
pequeno demais que lhe deram!
Tem dias em que o
desassossego metafísico é uma goteira na cabeceira em noite chuvosa.
“Cantar a beleza de ser um
eterno aprendiz...”.
Saudoso Gonzaguinha...
Que há de belo em ser um
sempre e sempre a-luno (sem luz) é coisa que me escapa, justamente porque
talvez eu não tenha aprendido a aprender e a fruir prazer do aprendizado.
Ou da ignorância.
Acho que estava ocupado
demais medindo e remoendo as dimensões da minha angustia por ser tão ignorante.
E no processo acabei,
contrário ao que diz a sua bela canção, desenvolvendo uma sutil vergonha de ser
tão infeliz ou (in)feliz, até que compreendi que essa é, essencialmente, a minha
natureza. E só às vezes ouso pensar que essa é a condição de qualquer ser
humano, o que nos move como criaturas desejantes e insatisfeitas, mas ao que
parece, também me falta, além do tal “botão-do-foda-se”
(e talvez justamente por isso), a capacidade de fingir para mim mesmo que não
ligo para isso.
Melhor que o corvo ame o negrume de suas penas, ou
vai passar uma vida miserável tentando piar como a um canário.
Não aprendi e não sei o que
é aprender.
Talvez também nem mesmo saiba o
que é belo.
Eu sei o que me atrai e com alguma certeza, posso dizer que nem sempre é o que se chamaria
de “bonito”.
Minhas respostas nunca foram
puras, mesmo quando eu era - em tese(5) - criança.
Acho que sequer tive
respostas a dar, só (até o momento) irrespondíveis perguntas puras.
Mas, é claro, isso também
não impede que eu repita:
É a vida, é a vida e é a
vida!