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quinta-feira, 26 de julho de 2012

O Signo do Corvo



Há humanos que se pensam deuses, feras  que se pensam homens e divindades de carne e sangue, que  se sentem menores e mais ínfimos que os primeiros.

Por vezes antílopes sonham serem leões a devorar os próprios irmãos.
Por vezes os deuses erram e a esses erros, chamamos “humanidade”.
É uma massa estranha, com erros sobrepondo-se a enganos, imiscuindo- se, disfarçados de certezas.

E eis a única certeza possível:
Hás de morrer, criança,  e com o substrato da tua decadência alimentarás a terra  e, por um tempo,  também a saudade daqueles que lamentando a tua sorte, fingirão não estarem sob o julgo da mesma sina .

Dar-te-ão guirlandas, a erva da terra por teto e o nome no mármore ou uma moeda para que pagues ao barqueiro do Estige, e apiedando- se de ti com velas e orações, esquecer-te-ão, pois dali em diante a dor da tua ausência será a constante lembrança de suas próprias finitudes.

Deixa-os brincar de eternidade e de incorrupção enquanto os cabelos se lhes tornam brancos e a poeira do tempo lhes enevoa os ombros.
Deves perdoá-los, para o teu bem.
É coisa pequena que te esqueçam.
Que importa se olvidam de ti, se tanto e com mais freqüência, esquecem a si mesmos para perscrutar o céu a cata de presságios?

E a terra lamenta uma ausência tanto quanto a mata lamenta a folha que cai ou  o perdulário chora  o centavo perdido.
Mas a noite escura se apieda de todos os que têm a coragem necessária
Para admitir que a teme.

Abraçá-la-á a negra terra e terás repouso, então, é tolice  ir-se aos prantos ao seio que recebeu  os teus antes de ti e que receberá a teus filhos e os filhos destes.
Deixasses pedaços de pão para encontrar o caminho de casa, os pássaros os comeriam e ainda estarias perdida.

O esmo é a direção que deves tomar, a única vereda digna dos teus passos.
Alegra-te por estares perdida, criança!
Apenas o que o sabem podem orientar os próprios caminhos.

Então, se lhe aprouver hoje adornar-te com esta tristeza,
Ora, que sejas linda e triste como a lua de outono,
Mas ergue-te amanhã, poderosa e inclemente, 
Como o mais rubro e implacável  sol de verão.

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