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domingo, 11 de dezembro de 2011

Huckleberry Finn- Ou a Minha inclinação para o Existencialismo



Lembra-se quando havia um azulado em seu sorriso e o futuro se estendia no infinito como um tapete prateado de uma eterna infância? Quando encontrava pequenos tesouros apenas por caminhar a beira de um córrego procurando quartzos ou lia um livreto da “Coleção Vaga-lume”? Lembra-se de como ria das diabruras de Thom Sawyer  e voava nas aventuras do pequeno canalha e desamparado guerreiro infantil,  Huckleberry Finn?  

Quando havia mais na vida do que essa sutil dor de existir que cobre tudo como uma manta cinza?

Bem, seu corpo cresceu, adoeceu... Adolesceu, amadureceu e o mundo te engoliu, te vendeu anseios e, (pasme!!), conseguiu te convencer que eram seus aqueles desejos de status e riqueza . Você vendeu barato o azul do seu sorriso para receber em troca o amarelo dos sorrisos de aprovação dos outros, uma tentativa tola de fazer parte, quando o que você realmente queria era ser aceito. E agora as únicas portas que você procura abrir, são as que te levam ao emprego mal remunerado, à vida mal vivida, às relações sufocantes e simbióticas (quando não parasitárias) e ao jugo inacreditavelmente pesado da vida comunal.

 Deixou de ser Um, para se tornar mais um, ao preço de sua alma.

 Uma nulidade indistinta em meio a seis bilhões de pontos cegos.

A sua alma, o que restou do pequeno vagabundo, do livre  Huck Finn em você, se rebela e anseia (oh como anseia!) mandar o mundo ao diabo  e descer o rio da vida em mais uma jangada...

E enquanto você pensa que não são os cabelos brancos que te dão um ar de decadência, mas sim os cabelos pretos restantes, você suspira, olha para a janela, vê as nuvens deslizarem macias no infinito azul que antes iluminava o seu sorriso e sente ódio de si mesmo por ter crescido. 

E mais ainda por não ter crescido o bastante para não mais se importar por ter crescido.

Não seria assim, você raciocina, se todos os seres humanos nascessem com um relógio embutido na carne. Se pudessem fazer voltar o ponteiro do tempo ou mesmo emperrá-los. Deter a marcha inexorável, não da morte da vida (porque essa só assusta os fracos e covardes), mas da morte em vida (essa sim, apavora quem anseia um horizonte mais amplo), da entropia que primeiro rouba o azul do seu sorriso, depois arranca o significado das coisas que você aprende a desamar por fúteis e por fim, o nada se apossa da sua alma. 

A sua alma se torna o nada.


Ninguém vive dentro do tempo. 

 E a iminência de um beijo é sempre mais excitante do que o beijo.

E a iminência de um soco é sempre mais dolorosa do que o soco.

A iminência de um ser humano, a jovem promessa que suspira e lateja em sonhos cada vez que vê nas núvens, mais do que vapor de água esbranquiçando o céu,  a larva sonhadora,  é sempre mais iluminada do que o ser humano que brota e viceja na sua condição de nada, além de carne, sangue, falhas e uma magnífica singularidade.


Isso é ser humano. E “ou você é...Ou o buraco te ensinará a ser”.
Quando a perda do azul (mais cedo) e de parte de seu espirito (mais tarde e não há muito tempo), se torna dolorosamente consciente, em silêncio você pragueja contra todos os deuses, vivos, mortos e não nascidos (porque é da natureza humana atribuir culpa a alguém e você já está cansado de culpar apenas a si mesmo), e sente um rejubilo infantil por sua vingança muda, porque é um tolo, mas não o bastante para ignorar que não se deve andar na sombra dos deuses invejosos.
E esse é o meu vir-a-ser

Ser a iminência do absoluto ser humano, ciente do eterno e insaciável nada.  


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