2014 foi um ano...Igualzinho
aos anteriores e diferente de todos os demais.
Fiz um pequeno balanço,
coisa inútil, tanto quanto aquelas resoluções de ano novo que a gente nunca
segue, mas eu meio que desenvolvi o gosto nada saudável de polir e dar brilho à
minha perplexidade...
Comecei o ano enrolado na
incompreensão de alguns paradoxos cotidianos
e o que era um simples novelo nas patas de um gatinho metafísico, agora
no momentos em que dezembro agoniza é uma bola emaranhada de não-entendi do tamanho do Himalaia.
Conheci o que é essa tão
falada “felicidade” e me deliciei e me desesperei por compreender o quão
facilmente isso nos pode ser tirado.
Também confirmei aquela impressão antiga (e que me extasiou quando percebi que não era percepção exclusiva minha) que tudo o que se ama é
permeado de uma angustia dolorosa, porque tudo o que se ama está na iminência
da perda.
Fiquei atordoado ao perceber
que as pessoas gostam de mim pelos meus defeitos e me detestam pelas minhas
qualidades.
Também parei de brigar com
certas idéias apenas porque me eram antipáticas e aprendi a melhor ouvir o
inimigo para melhor combatê-lo ou celebrar a paz, se for o caso.
Deixei de lado a estética e
parei de repudiar o escatológico, mas ainda tento manter as unhas e pensamentos
razoavelmente limpos.
Quebrei promessas (especialmente
as de não fazer promessas), mas felizmente nenhum osso do corpo e citando o “Sábio”
Falcão, caí em contradição, mas não do oitavo andar.
Passei o ano inteiro em
constante mudança para tentar permanecer como sou, briguei para consolidar uma
identidade, nadei contra a maré e me afoguei (mas eu pensei e ainda penso que
foi a coisa certa a fazer). Fui jogando pela janela ou deixei que por lá se
atirassem os amigos de ocasião, o social, o noblesse oblige, o politicamente
correto.
Namorei, casei e me
divorciei de algumas idéias e reatei com outras, entendi que relações, infeliz
ou felizmente, são como iogurte:têm prazo de validade.
Arrependi-me de algumas
coisas, mas teimei e as fiz novamente e tenciono continuar a fazê-las em 2015,
porque eu me permitirei ser minimamente estúpido.
Aprendi que as pessoas não são
feitas de manteiga e espantosamente não morrem caso se lhes fale uma verdade amarga
ou um galanteio grosseiro (com a pessoa certa e no momento apropriado, é claro)
e que ser educado não é sinônimo de ser um dândi
Descobri que não é crime
falar um ou outro palavrão (e o poder catártico que desse gesto advém) e algumas
vezes é até mesmo desejável.
Fui pra guerra levando
caneta e papel enquanto os outros levavam metralhadoras, fui de black tie em
festas à fantasia e perdi aliados por incapacidade de fingir ser bonzinho e amável
e de comungar com a suavidade de alguns pensamentos.
Descobri a preciosa
fragilidade do amor e o revigorante e autodestrutivo poder do ódio. E como é
importante beber das duas fontes...
Continuo brigando com a
minha própria humanidade, mas fiz as pazes com a dos outros...
E a despeito de todos os calorosos, impensados
e superficiais votos que eu e você receberemos no dia de hoje, uma mudança no
calendário nada significa se você não operar mudanças em si mesmo.
Então vou te dar um mau
conselho (porque os bons não são de graça e eu sei que você não vai me pagar):
Em 2015, você que esfolou a
droga dos joelhos subindo montes, tentando sem sucesso alcançar o céu, dê uma
chance para a sua humanidade; para de se pensar mais ou menos do que é.
Permita-se o inferno!